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sexta-feira, 18 de junho de 2021

CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #48



CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #48
Escola de Artes e Ofícios
90 Minutos | Maiores de 16 anos
17 Jun 2021 | qui | 21:30 


Após duas sessões com a exibição de apenas dois trabalhos, o Shortcutz Ovar regressou ao seu formato original com a apresentação de três curtas-metragens nesta que foi a terceira sessão da quinta temporada do certame ovarense. As lotações esgotadas continuam a ser uma constante e a explicação é simples: Além de um excelente ponto de encontro para assistir ao melhor cinema que se vai fazendo em Portugal, o Shortcutz Ovar oferece momentos de discussão e partilha que, para além de serem uma fonte de aprendizagem e conhecimento que alargam extraordinariamente a visão que se tem das obras, estimulam e enriquecem a forma de ver e sentir o cinema em todas as suas componentes. Assim foi, uma vez mais, na noite de ontem, com a passagem de três filmes de realizadoras que estão agora a chegar ao cinema português e que, mais do que uma visão profundamente feminina das questões abordadas, nos propuseram um mergulho no “grand bleu”, nesse azul intenso que tinge o mar e o céu, nos faz agarrar a vida com mãos ambas e nos vem dizer que o Verão, com o seu calor, os dias longos e o tanto que sempre promete, está quase a chegar.

“Blue 52”, de Catarina Nascimento, foi uma excelente surpresa. Com o dedo do Departamento de Comunicação Audiovisual da Escola Artística Soares dos Reis, esta ficção de quase dez minutos leva-nos ao encontro dos dilemas e angústias que se abatem sobre os jovens na sua passagem para a vida adulta, em particular em tempos de pandemia. À deriva, perante um futuro que tarda em definir-se, são muitos aqueles que se sentem como as criaturas mais infelizes e solitárias do planeta, autênticas “baleias 52 Hz”, seres incapazes de interagir ou comunicar uns com os outros. “Seriamos capazes de apreciar a beleza da vida se não tivéssemos com quem a partilhar?”, interroga-se Catarina Nascimento, para quem “oceano”, “esperança” e “real” não devem confundir-se com “deserto”, “desespero” e “falsidade”. Aos 18 anos - o mais novo realizador de sempre a passar pelo Shortcutz Ovar em quatro edições e picos -, Catarina Nascimento mostra uma desenvoltura invulgar na forma como sabe tirar partido das potencialidades técnicas do cinema, usando-as em prol do filme, enfatizando uma mensagem de confiança e optimismo e fazendo dele um objecto artístico por inteiro.

O segundo momento da sessão intitulou-se “Lascas” e teve a assinatura de Natália Azevedo Andrade. Tratou-se de uma curta-metragem de animação com cerca de dez minutos de duração, produzida pela Moholy-Nagy University of Art and Design, de Budapeste, e surge igualmente em contexto académico. Misturando imagem real com animação, o filme aborda de forma intensa o drama interior que se abate sobre uma mulher que, sentindo-se engolida pelos seus maiores traumas, decide abandonar os três filhos e fugir para bem longe. Baseada em histórias que a realizadora foi coleccionando, também aqui a questão da solidão se impõe, o mergulho nos grandes espaços como forma de nos perdermos ou encontramos. Metaforicamente, as portas que existem em cada um de nós tanto podem abrir-se para acolher e confortar, como se fecham definitivamente sobre os outros e sobre nós próprios. Filme de uma enorme maturidade, com uma estética a fazer lembrar alguns dos grandes mestres japoneses da animação - de Hashimoto a Miyazaki -, “Lascas” é mais uma prova da qualidade da animação portuguesa e permite antever um promissor futuro para esta jovem realizadora bracarense.

“Ouro Sobre Azul”, uma ficção com pouco mais de dezassete minutos, colocou um ponto final na sessão. À semelhança dos filmes anteriores, também este é um trabalho de escola e corresponde ao desafio lançado pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia a desenvolver uma curta-metragem sobre a temática do mar. Andreia Pereira da Silva quis, nesta sua primeira obra, abordar o delicado momento da entrada na pré-adolescência onde tudo é novo e desconhecido. Num ambiente marcadamente onírico, a realizadora conta-nos a história de duas crianças que vivem junto à praia e se vêem confrontadas com a descoberta de um ser extraordinário que, com o seu “canto”, irá mudá-las para sempre. O filme é, também ele, uma enorme metáfora sobre a perda de inocência e fala-nos da transição para o vago e impreciso mundo da adolescência, onde tudo é sedução e fascínio. Escrito pela própria Andreia Pereira da Silva e com fotografia de Concha Silveira, o filme conta com os desempenhos de Tomás Andrade, Mariana Gomes e Alice Sandizell, também eles a merecerem nota alta pela qualidade das interpretações. Vários, portanto, os nomes a fixar.

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