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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

LIVRO: "Perguntem a Sarah Gross"



LIVRO: “Perguntem a Sarah Gross”,
de João Pinto Coelho
Ed. Publicações Dom Quixote, Abril de 2015


A mim, como certamente a muitos outros leitores, o Prémio LeYa atribuído no ano passado a João Pinto Coelho fez virar as atenções sobre “Os Loucos da Rua Mazur”. Do prazer que retirei da sua leitura e do qual, em devido tempo, dei conta AQUI no Blogue, resultou a curiosidade em conhecer o livro de estreia deste autor, “Perguntem a Sarah Gross”, finalista do mesmo Prémio em 2014. A oportunidade surgiu agora, no final de um ano repleto de tantas e tão boas leituras, a cujo conjunto este livro acaba, necessariamente, por se juntar.

São vários os pontos de contacto entre os dois romances do autor, nomeadamente a acção centrada na Polónia em plena Segunda Guerra Mundial, as motivações religiosas e políticas como fonte de conflito entre católicos e judeus, a construção da narrativa em tempos paralelos e separados algumas décadas entre si ou mesmo uma enorme capacidade descritiva que confere a ambos um cunho marcadamente cinematográfico. Num aspecto, porém, eles divergem: Enquanto “Os Loucos da Rua Mazur” lança o olhar sobre um episódio muito particular, mostrando que o mal está em cada um de nós, em “Perguntem a Sarah Gross” esta questão do mal é circunstancial e tem implicações diversas, desde logo ideológicas. É como se, com a escrita do primeiro livro, tivessem ficado coisas por dizer e o autor sentisse a necessidade de as particularizar numa nova abordagem, provando assim a universalidade do mal.

João Pinto Coelho revela aqui a sua faceta de corredor de fundo. Mostra-se “prudente” nos capítulos iniciais, mas vai “abrindo a passada” com o avançar das páginas para terminar de forma avassaladora, num arrebatamento apenas alcançável pelos maiores. Nesta história que, no cenário improvável de um colégio da Nova Inglaterra, junta duas mulheres marcadas pelo passado e portadoras de segredos terríveis, são muitas as feridas abertas pelo mal que teimam em não sarar. O mérito do autor está em saber segurar as pontas duma história que é, sobretudo, uma viagem aos mistérios da alma humana e ao modo como consegue conviver com os demónios do passado, ao mesmo tempo que nos fala de momentos felizes, de amor incondicional, de amizades, de cumplicidades, de superação. Dizer muito mais seria revelar as extraordinárias surpresas que o livro encerra, pedindo-se ao leitor que embarque nesta aventura de olhos fechados e de coração aberto, deixando-se levar pela emoção.

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