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domingo, 2 de dezembro de 2018

CONCERTO: Orquestra de Jazz de Matosinhos com João Paulo Esteves da Silva



CONCERTO: “Bela Senão Sem”
Orquestra de Jazz de Matosinhos com João Paulo Esteves da Silva
Novembro Jazz 2018
Casa da Criatividade
30 Nov 2018 | sex | 22:00


Ponto final na primeira edição do Novembro Jazz. “Bela Senão Sem”, projecto que em 2011 juntou a Orquestra de Jazz de Matosinhos e o pianista João Paulo Esteves da Silva, foi a proposta de eleição para o encerramento de um certame recheado de excelente música, ao encontro de um publico que, como nos anteriores concertos, praticamente esgotou a sala. É para esse público e para o entusiasmo com que correspondeu às valiosas ofertas desta muito auspiciosa edição inaugural do Novembro Jazz, que vai a primeira nota de apreço, visto caucionar, com o vigor da sua presença e o calor das suas palmas, esta nova aposta cultural do Município de S. João da Madeira. Longa vida, pois, ao Novembro Jazz!

Do público para o palco, o programa deste concerto incidiu exclusivamente num álbum cujo nome, jogando com os mesmos elementos, subverte um trocadilho. Na prática, isto corresponde à ideia de pegar em material composto por João Paulo Esteves da Silva, trabalhá-lo com arranjos do próprio e ainda de Pedro Guedes e de Carlos Azevedo, os dois directores musicais da OJM, para daí resultar um conjunto de oito composições que se distinguem pela harmonia dos seus temas e pelo seu carácter genuinamente português. O piano de João Paulo Esteves da Silva esteve em plano de evidência, tanto nos diálogos prolixos que manteve com a orquestra como nos eloquentes e inspirados solos, reveladores dum apurado domínio musical e dum extraordinário bom gosto. Foi assim em “Candeia”, o primeiro tema interpretado, como nos seguintes “Moché Salyó de Misraim” - um casamento perfeito entre o tradicional e o jazz -, “Fado Chão” e “Bela Senão Sem”, neste último a concertina a “roubar” ao piano o lugar de excelência.

Terna e generosa, “Canção Açoreana” constituiu um momento único de emoção e beleza, as notas dedilhadas ao piano ao encontro do saxofone tenor de Mário Santos para um “voo nas asas do sonho” que, para gáudio do público, viria a repetir-se no encore (que quase esteve para não acontecer). “Tristo” foi outro momento de enorme inspiração, vivendo em grande medida do diálogo entre o piano e a guitarra de Nuno Ferreira, seguindo-se “Fantasmas” - a erudição à flor da pele, num exercício colectivo de improviso que resulta fascinante no virtuosismo de intérpretes como Daniel Dias ou Andreia Santos, Ricardo Formoso ou Javier Pereiro – e “Pode Ser Uma Serra”, a concertina num diálogo requintado com a guitarra, com a bateria de Marcos Cavaleiro e com o contrabaixo de Demian Cabaud. Verdadeiro “standard” do jazz português, como fez questão de referir Pedro Guedes, o maestro nesta noite em S. João da Madeira, “Certeza” constituiu o fecho perfeito de um delicioso concerto e de um Festival que colocou a fasquia a um nível particularmente alto. A repetir no próximo ano!

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