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domingo, 17 de novembro de 2024

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA: “O Nome Igual Nos Dois?”



EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA: “O Nome Igual Nos Dois?”
Paula Rego, Lourdes Castro, Maria Helena Vieira da Silva, Graça Morais, Arpad Szenes, Nikias Skapinakis, Júlio Pomar, Júlio Resende e outros artistas
Curadoria | Hugo Barreira
Casa Comum – Reitoria da Universidade do Porto
26 Set 2024 > 25 Jan 2025


No ano em que celebramos os 50 anos da revolução de Abril, a Universidade do Porto dá a ver um conjunto de obras que representam actos de resistência à opressão e ao exercício de liberdade. É o caso de António Dacosta, representado com uma peça que, embora oficialmente não tenha título, foi oficiosamente designada de “Salazar”. A espátula, objecto comum do atelier e da cozinha, surge-nos aqui com aspecto sujo e manchado, transitando entre significado e significante, objecto e representação, suscitando a ideia de uma utilização ambígua. Hugo Barreira, curador de “O Nome Igual Nos Dois?”, afirma que “este é também um dos propósitos da arte”, ou seja, “representar, poética ou literalmente”, mas também “documentar este país”, então sob os desígnios de um “tiraninho que não bebia vinho nem até café”, citando o poeta Fernando Pessoa. Encontramos este “Salazar” logo na entrada da exposição, confrontando o cabisbaixo “Homem Sentado”, de Augusto Gomes, e trazendo-nos à memória “uma resistência tímida” por parte de alguns pintores enquadrados numa estética “de pé-rapado”, como dizia o regime.

Paula Rego, Lourdes Castro, Maria Helena Vieira da Silva, Graça Morais, Arpad Szenes, Nikias Skapinakis, Júlio Pomar e Júlio Resende são alguns dos artistas representados em “O Nome Igual nos Dois?”. O título da exposição foi retirado de um quadro de Júlio Pomar intitulado “Golo”, no qual o artista presta homenagem a Manuel Brito. Entrar na primeira sala é sentir a energia do período controlado pelo regime ditatorial, ensombrado pela II Guerra Mundial. “A Europa Jaz”, obra de José de Almada Negreiros, confronta-se com a máscara africana de José Guimarães, numa alusão direta às questões pós-coloniais. Na segunda sala está representada Paula Rego, mas também Lourdes Castro com um desenho a lápis de cor sobre papel que encarna o espírito da transcendência e do feminino que domina todo o espaço. A olhar-nos lá do fundo, desde que entrámos na primeira galeria, está “Bicyclette (Shooting Color)”, a obra de Arman que se impõe na terceira sala, essencialmente dominada por questões de pintura, representação e recepção da arte.

Espécie de receituário com reflexões sobre a liberdade, tanto no sentido político, quanto no social ou artístico, a exposição apresenta obras provenientes da Colecção Manuel de Brito, referência no universo dos galeristas e livreiros em Portugal no século XX, à qual o filho, Manuel Brito, deu continuidade na presente coleção. Por aqui passam, entre outros, a Metonímia, uma receita simples com resultados surpreendentes, bastando para tal trocar uma palavra por outra, mantendo uma relação de significado. Assim, um nome como MANUEL pode ser um saboroso retrato de um coleccionador nas mãos de Vieira da Silva ou uma espátula de rapar tachos pode ser uma forma de protesto ou crítica política nas mãos de um artista (ou de qualquer um). Há, também, a Memória, ingrediente fundamental para qualquer receituário da Liberdade. Apresenta-se de forma objectiva ou subjectiva, próxima ou distanciada. Para uma mais profunda degustação das imagens, recomenda-se sempre uma consciencialização da memória e sensibilização para os contextos de produção daquelas. “O Nome Igual Nos Dois?” estará patente até 25 de janeiro de 2025 e a entrada é livre.

[Texto baseado em notícia sobre a exposição, a qual pode ser lida na íntegra em https://noticias.up.pt/2024/09/23/casa-comum-da-u-porto-expoe-receituario-para-a-liberdade/]

domingo, 10 de novembro de 2024

EXPOSIÇÃO: "Revoluções 1960 - 1975" | Júlio Pomar



EXPOSIÇÃO: “Revoluções 1960 – 1975”,
de Júlio Pomar
Curadoria | Alexandre Pomar, Óscar Faria
Atelier-Museu Júlio Pomar
11 Jul > 24 Nov 2024


As décadas de 1960 e 1970 foram tempos de grandes transformações da pintura de Júlio Pomar. As mudanças, que caracterizam toda a sua obra, foram neste tempo tão radicais que os quadros e as pesquisas do artista poderão, por vezes, julgar-se trabalho de diferentes autores. Esta exposição permite avaliar o que foi mudando no contínuo trabalho de Pomar e conhecer as condições, o contexto e os resultados das sucessivas linguagens, ou séries, ou fases, sem que as datas 1960-1975 estabeleçam fronteiras definitivas entre os anos imediatamente anteriores e aqueles que logo se lhes seguem. Instalado em Paris desde 1963, Júlio Pomar viveu e testemunhou revoluções políticas que tiveram amplas consequências culturais, mudaram vidas e marcaram inovações no campo das artes plásticas, nacionais e internacionais. Refira-se em especial o Maio de 1968, a violenta revolta social iniciada pelos estudantes franceses, que Pomar tomou logo por tema de trabalho. Outro marco político na vida do artista foram os anos de 1974-75, que abriram todas as fronteiras e trouxeram novas práticas e imagens, já como sequência portuguesa de 68. Às alterações políticas juntavam-se rápidas renovações ideológicas e mudanças de comportamentos, de que no caso importa referir a vaga da antipsiquiatria e a revolução sexual.

O pintor deixara o Neorrealismo por volta de 1955 e algumas obras maiores antecedem o virar da década, como “Maria da Fonte” ou “Lota”, esta de um período «negro» e ibérico que tentava reunir Goya e o primeiro Columbano – “Os Cegos de Madrid” são disso um bom exemplo. Os primeiros quadros, gravuras e desenhos dos anos 60 que aqui se expõem testemunham uma gestualidade vibrante que explora a abstratização das formas sem prescindir da referência figurativa. É uma pintura de acontecimentos vistos, como “Cena na Praia” e “O Carro das Mulas”, na qual estão muito presentes as figuras de trabalho, como por exemplo em Sargaço, em Pisa ou na recolha das redes, que eram agora espetáculos vivos, visões, no limiar do reconhecimento, já sem o anterior conteúdo militante, mas que têm ainda o povo como assunto. A par de algumas raras vistas de lugares, paisagens como Barcos de Albufeira, a ponte do Porto e o panorama de Lisboa, de 1961-62; a par também do gosto pelos «animais sábios» de um bestiário muito pessoal que percorre toda a carreira e aqui incluiu Mocho, Touro e Chimpanzés, adiante um Abutre – peças de humor e de observação, como os cadernos de desenho da chegada a Paris em 1963.

Ao longo dos anos 60 impuseram-se a Nova Figuração e a Arte Pop. Pomar acompanhou atentamente esse enfrentamento de tendências, à distância dos grupos de Paris e dos estilos colectivos. A revolução pessoal da sua pintura afirma-se com as séries dedicadas ao Rugby e a Maio de 68, onde o gesto se reduz até às formas nítidas marcadas sobre fundos de cor lisa, evoluindo do gesto à mancha recortada. É um importante espaço de passagem onde ainda têm lugar singular o “Retrato de Manuel Vinhas” e outra inesperada vista de Lisboa (“Saudades de Lisboa”). A seguir vêm as variações sobre o Banho Turco de Ingres, de formas em trânsito entre os escudos redondos dos polícias e os corpos de odaliscas, que lembram as de Matisse e comunicam com os Grandes Nus Americanos de Wesselmann. Acontecia na mesma década de 70 uma paralela, mas diferente, série de retratos desenhados a lápis (o do poeta Alberto Lacerda foi o primeiro). E uma nova transformação logo se segue com a prática da colagem de telas desenhadas à tesoura e previamente pintadas, acentuando a vertente do erotismo que desde sempre esteve presente. Uma série que já ultrapassa as datas fixadas. A exposição estará patente ao público até 24 de Novembro e pode ser vista de terça a domingo, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.