EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Intimidades”,
de Ana Robles
Curadoria | Pereira Lopes
iNstantes - Propostas Fotográficas #130
Centro de Reabilitação do Norte
04 Nov > 31 Dez 2025
Fruto de uma parceria com a Associação Cultural iNstantes e com curadoria no âmbito das suas “Propostas Fotográficas”, a exposição de fotografia intitulada “Intimidades” abre caminho a uma contemplação reflexiva, na qual ciência, arte e natureza se encontram e abraçam. Nela, a fotógrafa argentina Ana Robles faz uso da imaginação e da fantasia para induzir a sensação de entrar noutros mundos e de nos conduzir (elevar) a outras dimensões, nas quais as fronteiras do real e do imaginário se misturam e confundem. Com “Intimidades”, a artista persegue um desígnio ligado à natureza e aos seus mistérios, dirigindo o olhar para um conjunto de seres marinhos que aprenderam a construir em torno de si as mais graciosas armaduras, protegendo-se das investidas das marés e dos inúmeros predadores e preservando a sua integridade ao longo do processo de desenvolvimento.
Formada em Medicina Veterinária e Psicologia Social, Ana Robles converteu-se ao mundo da fotografia com uma proposta de fundo antropológico: “A fotografia é um caminho de experiências e sensações”, como ela própria declara. Com esta mostra, a artista procura ir além do visível, recorrendo à tecnologia radiológica que lhe permite penetrar no âmago de bivalves, gastrópodes e cefalópodes e ver de forma detalhada o seu exoesqueleto, as linhas das suas conchas, as camadas sobrepostas, as simetrias perfeitas capazes de contar as histórias mais incríveis. Recantos, curvas, rotundas, espirais, setas, parecem saídas de compêndios de matemática e geometria, emergindo com enorme clareza para nos surpreender e cativar. Nas suas mais extraordinárias formas, levam-nos a ver nelas uma escada em caracol ou uma lâmpada, uma bússola ou um ser no interior do útero. São símbolos de vida e, enigmaticamente, caminhos e objectos reais que se afiguram com uma aparência irreal, misteriosa e sedutora.
Ao desenvolver um olhar que ultrapassa o aparente e ao dar-nos a ver aquilo que habitualmente permanece oculto, Ana Robles mobiliza a estética - a leveza translúcida das conchas, os padrões quase abstractos das nervuras - e, ao mesmo tempo, o sentido da fossilização em tempo real: cada sulco conta a luta permanente entre o mar que corrói e o abrigo que protege, entre a vida que cresce e o ambiente que põe à prova. No exame minucioso da forma, vemos não apenas a matéria, mas o tempo, o crescimento, a adaptação, numa evocação da micro-arquitetura da natureza como força vital da arquitectura do quotidiano e do íntimo. “Intimidades” não é apenas uma mostra sobre conchas radiografadas: é um convite a repensar o que é visível, o que se oculta, e como o nosso olhar pode ser ampliado. Resta ao visitante deixar-se levar no embalo das formas, dos vazios e dos traços invisíveis que, sob a lente de Robles, se revelam em espanto e deslumbramento. A exposição está patente até ao final do ano no Centro de Reabilitação do Norte e a entrada é livre.
Sem comentários:
Enviar um comentário