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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Cinematica” | Teresa Freitas



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Cinematica”,
de Teresa Freitas
Curadoria | Noora Mänty
Encontros da Imagem Braga 2025
Galeria da Estação, Braga
13 Set > 30 Out 2025


Entre as várias propostas que se destacam no vasto panorama dos Encontros da Imagem de Braga, reservo um espaço muito particular para “Cinematica”, uma série fotográfica em contínua evolução que transcende a simples documentação para se tornar um exercício de manipulação visual e perceptiva. Nela, Teresa Freitas explora o impacto transformador da cor, procurando estabelecer um conjunto de tensões entre o que é captado pela objectiva e o que é subjetivamente interpretado pelo visitante. Consciente e calculada, a manipulação da imagem cria um espaço onde a realidade é desafiada, confundindo os limites entre o real e o onírico. Essa intervenção cromática, fundamentada nos princípios rigorosos da teoria da cor, altera subtilmente a atmosfera das cenas, insuflando-lhes uma qualidade quase cinematográfica. Assim, “Cinematica” não se limita a registar lugares e pessoas, mas revela as camadas invisíveis da experiência visual, convidando-nos a questionar a autenticidade do que vemos e a perceber o poder da cor como agente de transformação e sugestão.

Moldada pela estética e pelo equilíbrio cromático que define cada fotografia, a percepção é o elemento central nesta série. A cor, tratada como uma personagem activa, actua em consonância com a composição, guiando o olhar e criando uma narrativa própria que transcende a mera reprodução visual. Os tons, cuidadosamente calibrados em matiz, saturação e luminosidade, funcionam como uma linguagem simbólica, capaz de evocar estados emocionais e sensações imersivas. A estética aqui é mais do que um atributo formal: É um campo onde a harmonia entre elementos visuais sustenta a relação entre o real e o imaginário. O onirismo, nesse contexto, emerge do modo como a cor e a luz reconfiguram o espaço e o tempo e distorcem a percepção tradicional, transformando cenas comuns em momentos de enigma poético que desafiam o espectador a uma leitura mais profunda, onde a imaginação se cruza com a experiência tangível.

No limite, “Cinematica” é sobre uma nova forma de olhar a rua, a casa ou a paisagem — não apenas como espaço e território, mas como palco onírico onde o quotidiano se reveste de teatralidade e simbolismo. A manipulação da imagem enaltece o detalhe aparentemente banal, eternizando-o com uma nitidez que transcende o efémero, revelando uma dimensão que oscila entre o familiar e o insólito. A rua torna-se uma extensão da casa, um território onde o comportamento humano ganha contornos de drama e fantasia, amplificados pela estética cromática que ilumina a cena. O realismo fotográfico é tensionado pela intervenção artística, criando um diálogo constante entre o visível e o oculto, entre o que é registado e o que é imaginado. “Cinematica” convida o espectador a envolver-se num percurso sensorial onde a manipulação da cor não só altera a percepção, mas também enriquece a narrativa visual com camadas de significado que vão muito além da mera representação.

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