Páginas

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

EXPOSIÇÃO: “Lápis de Pintar Dias Cinzentos”



EXPOSIÇÃO: “Lápis de Pintar Dias Cinzentos” 
Obras da Colecção de Arte Fundação EDP
Curadoria | Margarida Almeida Chantre
MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia
26 Jun 2025 > 19 Jan 2026


Num dos espaços do museu, onde se encontram reservadas as obras da Colecção de Arte Fundação EDP, existe uma grade onde estão penduradas quatro molduras. Uma delas apresenta um pequeno cartão, pautado, em que se pode ler datilografado: “Quando me deste um lápis de cor – vermelho – que escrevia a cor-de-rosa um lápis de pintar dias cinzentos”. Este cartão faz parte de uma obra de 1973, de Carlos Nogueira, que deixou usar o título como elemento instigador desta exposição. E esta generosidade foi tão grande que emprestou uma obra para completar o conjunto da sua sala, além de ter trazido uma outra mais recente, de 2024, para ser apresentada pela primeira vez no espaço da Central Tejo, onde pode ser vista a exposição. E lápis… Mais de 2000 lápis que conseguiu juntar para “pintar” uma sala de todas as cores. “Lápis de Pintar Dias Cinzentos” quer celebrar a generosidade dos artistas, a sua capacidade de ver o mundo com olhos atentos e sensíveis, de construir sentidos a partir do invisível, de dedicar tempo, corpo e alma à criação, mas sobretudo de abrir espaços de reflexão, emoção e beleza que enriquecem a vida dos que os experienciam.

A Colecção de Arte Fundação EDP, iniciada em 2000 com o propósito de abranger as várias gerações de artistas portugueses a partir dos anos 60 do século XX e de forma a incluir as várias disciplinas da criação artística até à contemporaneidade, é hoje constituída por mais de 2540 obras de mais de 345 artistas. Destas foram escolhidas 42 obras de 21 artistas para preencher as seis salas do espaço do Cinzeiro 8, algumas das quais são apresentadas ao público pela primeira vez. Buscou-se na colecção obras que revelassem esta generosidade capaz de transformar momentos e, às vezes, até dias. Outras há, como um simples cartão, que podem ser como um porto de abrigo nos dias em que temos dificuldade de ver outras cores para além do cinzento. Do que nos falam certas obras, o que nos dizem, o que queremos ver? O diálogo é sempre cúmplice. Quatro salas são dedicadas a quatro artistas individuais: A Carlos Nogueira, o incitador do pensamento da exposição; a Maria José Oliveira, com a sua poesia intimista de trabalhar o corpo; a Tomás Colaço, com o mergulho na obra; a Luísa Correia Pereira, com a convocação do mundo interior.

Nas outras salas juntam-se conversas que reconhecemos nos artistas: a casa como paisagem de abrigo em Maria Pia Oliveira e Rita Magalhães; a música como linguagem do mundo em Jorge Pinheiro e José Loureiro; o poder de uma declaração de amor em Pedro Gomes; a alquimia da metamorfose em Rodrigo Oliveira; o lugar sagrado em Helena Almeida e Maria Beatriz; a natureza e claridade em Manuela Marques e Eduardo Gageiro; a cor e a revelação da arte em Ana Pérez-Quiroga e Jorge Martins; a medida do mundo em Luísa Cunha e Eduardo Batarda; o cosmos em Ângelo de Sousa; a alegoria do conhecimento em Tiago Baptista; e o tempo em René Bertholo. Todas estas obras falam de nós. E, assim, aproximam-nos dos outros. As obras de arte revelam como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para desafiar e transformar as nossas percepções, muitas vezes de maneiras que não esperamos. Ao observá-las, cada um vai interpretá-las a partir das suas próprias vivências. E isto revela mais de nós mesmos do que talvez nos apercebamos à partida. Resta o convite a que nos deixemos levar por esta descoberta.

Sem comentários:

Enviar um comentário