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terça-feira, 5 de agosto de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Nuances & Nocturne” | Alwin Maigler



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Nuances & Nocturne”,
de Alwin Maigler
Curadoria | Magda Pinto
Leica Gallery Porto
26 Jul > 11 Out 2025


“Nuances & Nocturne”, de Alwin Maigler, convida-nos a atravessar dois universos da dança que, embora distintos no tom e na atmosfera, partilham um mesmo eixo: a escuta do corpo em movimento e da emoção do instante. Em “Nuances” tudo é contido, depurado, interior. Revela o lado mais introspectivo e delicado do ballet. Fotografados em estúdio, os bailarinos do Stuttgart Ballet surgem aqui como figuras entre o rigor e a fragilidade, entre o controlo e a respiração. São imagens que captam não apenas a forma, mas os momentos de suspensão, as pausas, os gestos em transição, a leveza que precede o esforço. São espaços fugidios que só quem observa com atenção consegue captar. Os bailarinos, quase esculturas vivas, revelam-se não no esplendor da pose, mas na vulnerabilidade da transição. O corpo torna-se matéria plástica e poética. A luz natural desenha músculos, sombras, intenções, como se revelasse o que a técnica esconde: o íntimo do corpo que se prepara para voar.

Com “Nocturne”, o cenário muda completamente. A dança abandona o espaço tradicional e ocupa a cidade à noite, ao ar livre, em improviso. Os bailarinos irrompem pelo espaço público com liberdade e irreverência. Etéreos, desafiadores e poéticos, dançam sobre fontes e escadarias, atravessam jardins e praças, invadem a arquitetura com a leveza de quem não pede licença, reinventando a cidade como palco. Aqui, o corpo deixa de seguir o compasso clássico e improvisa com o inesperado, como se dançar fosse a única forma possível de estar no mundo. Não há coreografia, há entrega. Há humor, lirismo, surpresa. A cidade transforma-se em cenário, o improviso em coreografia. As imagens são mais cruas, mais instantâneas, mas a técnica permanece, agora subjugada à urgência do gesto espontâneo e ao improviso que a noite permite. A câmara, cúmplice deste momento, regista não só o movimento, mas a alegria de dançar sem público, sem regras, sem rede. Como num sonho lúcido onde o tutu pode transformar-se num adereço disparatado e o chão, qualquer chão, é palco.

Reunidas sob o mesmo olhar, estas duas séries revelam a amplitude emocional e visual do trabalho de Alwin Maigler. Se “Nuances” nos aproxima da precisão e do detalhe do gesto, “Nocturne” convida à descoberta do corpo em liberdade e em diálogo com o mundo exterior. Entre ambas as séries, desenha-se uma espécie de poética do movimento, uma narrativa visual onde a dança se revela não apenas como espetáculo, mas como forma de presença no mundo silencioso ou ruidoso, interior ou urbano, coreografado ou imprevisto, disciplinado ou livre. Todas as imagens expostas são impressões em carvão feitas em Portugal por Mário P. Rodrigues (um dos poucos Mestres a nível mundial, que ainda se dedica a este tipo de impressão). Este é um método artesanal de altíssima exigência técnica e qualidade estética, que confere a cada fotografia uma densidade táctil, uma profundidade tonal e uma longevidade extraordinárias. Cada obra é mais do que uma imagem: é um objeto construído com o mesmo cuidado, intenção e sentido de permanência com que o gesto do bailarino se inscreve no espaço.

[Extraído do texto de Magda Pinto, inserto na Folha de Sala da exposição]

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