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terça-feira, 22 de julho de 2025

LUGARES: Mosteiro de Santa Maria de Coz





LUGARES: Mosteiro de Santa Maria de Coz
Rua de Santa Rita, Coz - Alcobaça
Horários | De terça a sexta, das 09h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00; sábado, das 14h00 às 18h00
Ingressos | Entrada gratuita


A dez quilómetros de Alcobaça situa-se Coz, uma das antigas povoações dos Coutos de Alcobaça, rodeada de férteis campos agrícolas e de antigas florestas. Aqui ganhou forma, no século XIII, uma comunidade de religiosas cisterciense, com o consentimento da Abadia de Alcobaça. No século XVI, o Mosteiro de Santa Maria de Coz tornou-se num dos mais ricos mosteiros femininos desta ordem, em Portugal. Com o seu esplendor artístico barroco, a igreja testemunha a riqueza dessa comunidade. Na segunda metade do século XVII e no século XVIII, o Mosteiro passou por um processo de profunda renovação da qual sobrevive o templo com as suas preciosas produções artísticas. Desmantelado e com parte do seu espólio destruído, no contexto das políticas liberais que levaram à extinção das Ordens Religiosas por decreto de 1834, o Mosteiro de Santa Maria de Coz viria a sofrer obras de restauro e a receber a classificação de Imóvel de Interesse Público em 1946. Em 2021, juntamente com o seu antigo dormitório e restantes dependências, o Mosteiro foi decretado oficialmente como Monumento Nacional. Integra, desde 2016, a Carta Europeia de Abadias e Sítios Cistercienses, encontrando-se aberto ao público desde essa altura.

Com Eurico Leonardo por anfitrião - as visitas são guiadas e é aconselhável garanti-las com antecedência -, os elementos de interesse vão surgindo aos nossos olhos, neles se destacando as fachadas simples e austeras da Igreja vazadas por janelas rectangulares e óculo elíptico, bem como a sua nave única, coberta por tecto de madeira de berço com caixotões pintados com emblemática. No interior da Igreja, as paredes são dinamizadas pelo emprego de azulejo de padrão e figurativo, recaindo a nossa atenção nos elementos que distinguem aqueles que são de oficina holandesa e portuguesa. De talha dourada, o riquíssimo altar-mor é um dos primeiros exemplares desta técnica em Portugal e nele avulta uma composição da sagrada família, em tamanho natural, e na qual Jesus surge com uma idade “entre os 3 e os 4 anos”, algo de verdadeiramente incomum. Eurico cita especialistas que especulam tratar-se de uma representação simbólica do regresso do Egipto, apoiada pelos elementos vegetais (palmeiras) que decoram o fundo da cena. Numa das paredes laterais avulta uma das mais preciosas jóias do templo, “O Purgatório”, obra de Josefa de Óbidos que resulta numa composição riquíssima, onde sobressaem os anjos (auto-retratos da pintora?) e, entre as muitas almas, a desassombrada representação de dois clérigos.

Uma grade de clausura em talha dourada separa a zona reservada ao culto daquela conhecida por coro das monjas. É nele que podemos apreciar o cadeiral onde as monjas passavam inúmeras horas por dia e ainda um riquíssimo portal manuelino, de arco polilobado, com decoração de grotescos, motivos vegetalistas e heráldica. A propósito deste espaço, Eurico Leonardo contou uma curiosíssima história que tem a ver com a “eleição democrática” da abadessa, a qual era sufragada entre três candidatas, depois de uma triagem inicial. No dia da eleição, eram entregues a cada monja três favas (duas pretas e uma branca), sendo que a fava branca deveria ser colocada na urna, devidamente identificada, da favorita. Reza a história que a mais votada na triagem foi sempre a eleita na votação final, levando a que as monjas especulassem sobre a necessidade deste último acto. Afinal, eram “favas contadas”, um dito que sobreviveu ao passar dos séculos e chegou aos nossos dias. Entre a Igreja e o coro das monjas, uma passagem pela Sacristia permite abordar o precioso conjunto azulejar com passagens da vida de S. Bernardo de Claraval, alguns frescos muito deteriorados mas ainda com alguns elementos iconográficos de grande valor e, naturalmente, esse doce conventual único que é o pão de ló, e que, sendo de Alfeizerão, afinal é de Coz.

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