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quinta-feira, 19 de junho de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "La Disperata Allegria" | Gianni Berengo Gardin



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “La Disperata Allegria”,
de Gianni Berengo Gardin
100 Anos da Leica I - O Mundo Através do Visor
Curadoria | Magda Pinto
Museu Nacional Soares dos Reis
24 Mai > 13 Jul 2025


Dedicada ao quotidiano das famílias ciganas em Florença, “La Disperata Allegria” foi a série com a qual Gianni Berengo Gardin alcançou o Prémio Leica Oskar Barnack, em 1995. É no âmbito da exposição “100 Anos da Leica I - O Mundo Através do Visor”, patente ao público no Museu Nacional Soares dos Reis, que podemos apreciar este trabalho do fotojornalista italiano, graças a um conjunto de imagens de forte impacto, reveladoras de uma capacidade inimitável para capturar o país e as pessoas, a vida quotidiana e todos aqueles momentos especiais que constituem a sua particular assinatura e são o garante da singularidade do seu trabalho. Uma conversa entre Berengo Gardin e a presidente da Associação para a Defesa das Minorias em Florença serviu de ponto de partida a esta série, baseada na ideia de fotografar uma jovem família cigana cujos advogados da associação haviam conseguido impedir o sequestro de um dos seus filhos recém-nascidos – “uma prática odiosa e muito comum entre juízes na Itália”, nas palavras do fotógrafo.

Baseado nas relações de confiança que Gianni Berengo Gardin conseguiu estabelecer com estas comunidades postas à margem da sociedade, o projecto acabaria por se expandir rapidamente e de forma natural. Ao olhar do fotógrafo abriu-se a dura realidade da vida nos acampamentos ciganos da periferia de Roma. Aos poucos, Berengo Gardin e a sua Leica M conseguiram capturar um vislumbre directo e honesto do quotidiano desta família, depois de vencida a natural desconfiança e estabelecidas as bases de um trabalho assente numa incrível boa vontade e generosidade de parte a parte. Aquilo que podemos apreciar neste notável conjunto de imagens resulta dessa abertura e da possibilidade de registar um quotidiano particular nos seus mais variados aspectos, dos momentos bons e festivos, como os preparativos de um casamento ou um almoço de Natal, às condições de vida precárias, de convivência com o frio e o calor, a falta de água e saneamento, as doenças, o funeral de uma criança.

“Esta série, juntamente com uma que fiz sobre asilos, em 1969, foi o projecto que mais me envolveu emocionalmente e do qual mais me orgulho”, afirma Berengo Gardin. O trabalho do fotógrafo com os ciganos resultou numa exposição em Florença, bem como na publicação de um livro que a acompanhou, prefaciado pelo escritor, dramaturgo e artista plástico alemão Günther Grass, Prémio Nobel da Literatura em 1999. Tanto a exposição quanto o livro foram bem recebidos pela crítica e tiveram do público uma resposta muito positiva. “Mas este tema é tão controverso que não sei se as pessoas conseguiram, realmente, entender a mensagem”, reflecte o fotógrafo em retrospectiva. Quando questionado sobre a atual situação de vida dos ciganos em Itália, Berengo Gardin responde com hesitação, não se mostra confiante, afirma que “a discriminação ainda é muito comum”. E acrescenta: “Todas as tentativas para encontrar uma solução, para lhes proporcionar uma vida digna, implicam lutar contra a oposição das comunidades locais e dos partidos de direita que exploram a situação para obter apoios”.

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