CINEMA: “Parthenope”
Realização | Paolo Sorrentino
Argumento | Paolo Sorrentino
Fotografia | Daria D’Antonio
Montagem | Cristiano Travaglioli
Interpretação | Dario Aita, Gary Oldman, Stefania Sandrelli, Celeste Dalla Porta, Antonino Annina, Margherita Aresti, Martina Attanasio, Simona Capozzi, Antinea Curatolo, Liliana Bottone, Paola Calliari, Ciro Capano, Marisa Carluccio, Mariacarla Casillo
Produção | Lorenzo Mieli, Ardavan Safaee, Paolo Sorrentino, Anthony Vaccarello
Itália, França | 2024 | Drama, Fantasia | 137 Minutos | Maiores de 16 Anos
Vida Ovar – Castello Lopes
27 Fev 2025 | qui | 16:30
A história do cinema está repleta de realizadores que, em algum momento da sua carreira, deslumbraram o público com uma parte das suas propostas, a outra parte fazendo-o mergulhar no desconcerto e na frustração. Confesso que é isso que sinto perante “Parthenope”, fonte inebriante de beleza cinematográfica, reflexões existenciais e uma carta de amor à cidade de Nápoles. A questão não está, porém, nos méritos visuais do filme ou num ou outro apontamento a fazer apelo às memórias da juventude, antes na vontade do espectador em deixar-se embalar pela grandiloquência da imagem, em detrimento da coerência da narrativa. O filme começa com o nascimento, não apenas de uma criança, mas de uma lenda. Surgida da espuma do mar, Parthenope recebeu o nome da sereia da mitologia grega e vê-se condenada a oscilar entre a beleza onírica e a tragédia interior. Um salto no tempo e eis-nos perante a “femme fatale” de dezoito anos, numa altura em que tem já toda a cidade a seus pés. Encantados e seduzidos, os homens param, olham e sonham, enquanto as mulheres não escondem a sua curiosidade ou a sua inveja.
Mosaico de momentos reunidos pelo realizador e em cuja articulação reside a intenção de contar uma história, o filme é uma deriva entre pretendentes, admiradores e amantes, parecendo encerrar a viagem de uma mulher por caminhos de transformação e auto-descoberta. Da jovem sedutora despreocupada à mulher inteligente que suporta o peso do seu próprio charme, “Parthenope” contempla um conjunto de sequências cujo interesse se deve em grande medida à interpretação da protagonista, Celeste Dalla Porta, reforçado pelos notáveis trabalhos de fotografia, música e guarda-roupa que acrescentam ao filme camadas de ressonância emocional e conseguem embalar os sentidos com momentos de enorme beleza. Cada imagem é um banquete visual, desde os vastos horizontes sobre o Tirreno até ao intimista “chiaroscuro” de uma Catedral à luz das velas. Mas, então, o que se passa com o enredo? Alguém adivinha que fios puxar à meada? Alguém sabe para onde foi a história?
Há no filme uma forte dependência do olhar masculino sobre o corpo da mulher, o que de certa forma parece ensombrá-lo. Mas se “Parthenope” pode ser lido na óptica da exploração fascinante da beleza como um dom, Sorrentino é suficientemente astuto para nos dar a ver o seu lado maldito. Mil vezes o espectador se interroga sobre aquilo que poderá estar a passar na cabeça da mulher e mil vezes sairá sem resposta. Em suma, este poderá ser o filme ideal para aqueles que desejam uma fuga visual e emocional, desde que não os incomode o naufrágio ocasional da história nas costas acidentadas e rochosas da sétima arte, mesmo que a paisagem seja de cortar a respiração. Sorrentino oferece uma experiência cinematográfica aos mais hedonistas, incapazes de recusar as memórias da juventude face à forma como a beleza que se derrama na tela é percebida. Mas se o espectador é do tipo de revirar os olhos com imagens de gente bonita capaz das coisas mais idiotas a passarem em câmara lenta, então talvez seja melhor ficar por casa e pensar em investir o seu dinheirinho numa viagem a Nápoles.
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