EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Echoes of the Everyday”,
Portuguese Street Photography Collective
Foyer do Auditorio de Espinho | Academia
24 Jan > 28 Mar 2025
“Género fotográfico que regista o quotidiano num determinado local público” pode ser, na sua simplicidade, a forma mais adequada de definir a Street Photography, ou fotografia de rua. Isto não apaga, porém, o problema que a simples palavrinha “rua” levanta, limitando e baralhando aqueles que pensariam ver na rua o componente-chave das imagens que se abrigam à sombra do conceito. É talvez altura de chamar a terreiro Rui Palha, nome maior do género em Portugal, para quem a fotografia de rua “ (…) é descobrir, é captar dando vazão ao que o coração sente e vê num determinado momento, é estar na rua, vivenciando, entendendo, aprendendo e, essencialmente, praticando a liberdade de ser, de viver, de pensar…”. Liberdade, acrescentarei, de poder fotografar na praia, num parque, numa praça, num café, num museu, numa estação de metro, sobre uma ponte ou debaixo dela... E nem será necessária a existência de uma ou mais pessoas na imagem, bastando uma evidência, por mínima que seja, da sua presença.
Documental ou ficcional, abstracta ou satírica, interpretativa ou descritiva, a fotografia de rua corresponderá sempre à observação de um momento peculiar e gloriosamente fortuito que existiu apenas numa fracção de segundo, no preciso instante em que se mostrou inteiro e limpo e foi aprisionado pelo fotógrafo. Abraçando estes conceitos e todos os demais que a fotografia de rua tende a incluir, surgiu em Maio de 2024 o Portuguese Street Photography Collective, cuja primeira exposição pública pode ser vista por estes dias no Foyer do Auditório de Espinho – Academia. Celebrando o género em Portugal, Ruben Mália, César de Melo, João Rat, Vasco Trancoso, André Santos, Marisa Martins, Carlos Bernardo, Leonor Valente e Rui Pina partilham com o visitante o que de extraordinário se abriga no quotidiano urbano, através de um olhar, simultaneamente atento e sensível, pousado sobre a “beleza do banal” que se transforma em arte pela magia de um clique.
Sem um tema central, a exposição funciona como um portfólio colectivo, reflectindo a diversidade criativa do grupo e celebrando a espontaneidade, a poesia e o caráter humano da fotografia de rua. Nas sombras projectadas na parede que permitem adivinhar um sol que se ergue em todo o esplendor ou caminha para o ocaso, na forma como o padrão de um polo se projecta geometricamente sobre uma praça ou a barra da camisola de uma jovem serve de prolongamento à moldura de um quadro, nas múltiplas narrativas que se abrem sobre um grupo de pessoas à espera do autocarro ou sobre o rapaz que salta para o Rio Douro, os trabalhos do colectivo “abrem o jogo” por inteiro, mostrando o sentido de oportunidade de cada fotógrafo, a sua inteligência e humor, o detalhe que mal se vê e que é a chave para a desconstrução de uma narrativa sempre mais vasta e rica do que possa aparentar. Ao mesmo tempo, cada imagem é um convite ao olhar cúmplice e atento do visitante, mostrando-lhe que muito do sabor da vida está nos seus pequenos-nadas.
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