EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Bela Vista”,
de António P. Ramos
iNstantes - Propostas Fotográficas #97
Casa da Cultura de Avintes
11 > 28 Jan 2025
Não serão muitos os lisboetas que conhecem verdadeiramente o Parque da Belavista e serão ainda menos os que dele sabem tirar o maior partido. Obra do arquitecto-paisagista Marques Moreira, localiza-se na freguesia de Marvila e ocupa o espaço de um pequeno vale com perto de uma centena de hectares e uma configuração em anfiteatro que desce levemente inclinado para Sul. Dos seus miradouros a vista alcança, nos dias mais claros, os contrafortes da Serra da Arrábida e a vila de Palmela, depois de atravessar as colinas de Lisboa, com Alvalade e Chelas ali ao lado e, um pouco mais longe, o verde e fulgurante espaço florestal de Monsanto. Quem o visita não consegue impedir-se de imaginar que o seu fascínio e charme, os enigmas que o povoam ou as sombras que o habitam, são os mesmos que poderão encontrar-se noutros parques bem mais conhecidos, do berlinense Tiergarten ao londrino St. James Park, dos Jardins do Tivoli em Copenhaga ao Vondelpark de Amsterdão. E afinal o Parque da Belavista talvez nem seja tão desconhecido assim, já que por aqui estacionam anualmente multidões à boleia do “Rock in Rio Lisboa”, festival que já acolheu nomes como os de Bruce Springsteen, Britney Spears, Lenny Kravitz, Brian Adams, Stevie Wonder e Amy Winehouse, entre muitos outros.
Quem conhece bem o Parque da Belavista é António Pereira Ramos, fotógrafo nascido em Vila Nova de Gaia mas a residir em Lisboa há largos anos, curiosamente a poucos minutos do Parque. Percorrendo frequentemente o espaço, aproveita ao máximo os seus percursos habilidosamente desenhados, os pequenos bosques que o defendem do vento, os vestígios que deixam adivinhar antigas quintas, azinhagas e campos, tais como descritos por Eça de Queirós. E contudo, “apesar dessa proximidade, eventualmente também por causa dela, poucas vezes lá tinha fotografado e quase sempre de passagem”. Foi assim que decidiu abraçar o projecto de fotografar a Bela Vista de forma comprometida, num percurso que teve o seu início em Outubro de 2019 e demorou quatro anos a concretizar, com uma pandemia de permeio. Durante esse período, percorreu e fotografou o parque com regularidade, “começando muitas vezes na ponte que lhe dá acesso e continuando, depois, nos caminhos quase vazios ou nos espaços temporariamente interditos, nas ruínas das antigas quintas, nalguns recantos esquecidos ou nos espaços amplos, ladeados por vegetação”.
Parte integrante da primeira série de Propostas Fotográficas de 2025, uma iniciativa do iNstantes - Associação Cultural, “Bela Vista” estabelece um dos percursos possíveis por alguns desses momentos e lugares, “muitas vezes habitados pelo silêncio, algumas vezes por pessoas e quase sempre pelo tempo, ou pelos seus vestígios”. Acompanhamos com o olhar as imagens que, num preto e branco depurado, se abrem à nossa frente, parecendo-nos pairar algures sobre o Central Park, como num filme de Woody Allen. Sob a lente de António P. Ramos, também a Belavista é um apaixonante cenário, que o artista decide despir para que a nossa imaginação o possa povoar de pessoas que passeiam descontraidamente, que repousam sentadas nos bancos ou deitadas na relva, que fazem a sua corrida matinal tirando o maior partido do espaço aberto e do ar limpo que se respira. É no meio dessa meia dúzia de privilegiados que vamos encontrar o fotógrafo: No diálogo com árvores velhas de muitos anos, na luz clara e nítida de preciosos momentos, no cinzento dos dias chuvosos ou nas imagens difusas das manhãs de nevoeiro. Verificando mudanças, introduzidas do exterior ou provocadas apenas pelo mudar do tempo, da estação do ano, da hora do dia, da luz que passa, de quem passa. Do passar do tempo.
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