CINEMA: Shortcutz Ovar Sessão #91
Júri Jovens Cinéfilos – Temporada 8
Com | Clara Maio Alves, Duda Terra, Sara Oliveira, Maria Manarte, Maria Silva, Tânia Marques
Apresentação | Tiago Alves
150 Minutos | Maiores de 14 Anos
Escola de Artes e Ofícios
30 Jan 2025 | qui | 21:30
“É isso, malta: Divirtam-se, reflitam e espero que gostem!” Foi com toda a espontaneidade, verdade e um belo sorriso que Maria Silva, um dos elementos do Júri Jovens Cinéfilos do Shortcutz Ovar, resumiu o espírito da sessão programada para a noite de ontem na Escola de Artes e Ofícios. Feita por jovens e para jovens, a noite abriu-se às escolhas de Clara Maio, Eduarda Terra, Francisco Fidalgo, Maria Bacelar, Maria Manarte, Maria Silva e Sara Oliveira, dando o pontapé de saída na programação anual do Shortcutz Ovar. Conhecedor do valor, interesse e originalidade de uma sessão sempre especial, o público esgotou a lotação da sala, seguro da possibilidade de ver ou rever três dos vinte e cinco filmes exibidos na temporada anterior, fazer novas leituras de cada uma das obras e participar numa discussão sempre viva e enriquecedora. Discussão que, ao longo de 2025, irá expandir-se, como nos anos anteriores, aos concelhos da Murtosa e de Espinho, mas também a Vila Nova de Gaia e Tomar, na altura em que esta verdadeira embaixada cultural levar o programa de curtas-metragens ao encontro dos jovens estudantes de Agrupamentos Escolares das localidades referidas.
Praticamente consensuais, as escolhas do júri recaíram sobre “O Senhor do Porto”, de Tânia Marques, “Feios, Porcos e Maus Doc.”, de O Inglez e “2720”, de Basil da Cunha, numa amostragem deveras interessante das narrativas que presidiram à oitava temporada do Shortcutz Ovar. Uma escolha que se saúda, na medida em que recai sobre filmes muito bem estruturados e de grande qualidade, que abordam temas da actualidade e cujas preocupações são transversais a todas as idades e estratos económicos e sociais. Mimetizando aquele que foi o alinhamento dos filmes exibidos ao longo de 2024, também ontem o primeiro filme exibido foi “O Senhor do Porto”, enquanto “2720” encerrou a sessão. Uma coincidência interessante, que reforça a ideia de “representatividade” ou, se assim quisermos, de súmula daquilo que foi a temporada passada. Ao público era pedido que encontrasse um fio condutor para os filmes exibidos, um elo comum que justificasse, em grande medida, a opção do júri por estes filmes, ficando claro, desde o início, que o tema da habitação seria um dos elementos distintivos do conjunto de propostas. Mas será que não houve outros aspectos a ligá-las?
“O Senhor do Porto” fala de habitação, do substracto nefasto que reside na especulação imobiliária, dos preços inflacionados aos quais os jovens casais ou os estudantes não conseguem chegar, dos movimentos demográficos rumo às periferias das cidades que arrastam consigo uma irremediável perda de identidade. No meio disto tudo, o senhor do Porto é um resistente, como resistentes são a Leninha, o Bezelga e o Sr. Manel de “Feios, Porcos e Maus Doc.”, afirmativos na sua liberdade de escolha, na verdade, humanidade e dignidade de quem se despe de preconceitos, rejeita a formatação da sociedade e vive a vida tal e qual a idealizou, ainda que muito precariamente. Igualmente precário é o viver da comunidade cabo-verdiana de um dos bairros da Reboleira, Amadora (código postal 2720), retratada de forma nua e crua por Basil da Cunha, num exercício de cinema-verdade absolutamente magistral. Um filme que encontra no Estado securitário e na violência policial uma fonte de discriminação e preconceito, que traz o medo, a insegurança e o desenraizamento aos moradores do bairro, que mesmo oprimidos e excluídos resistem. Mais do que “habitação”, “resistência” será mesmo a palavra certa para definir o lema da sessão, à qual devemos somar as palavras “território” e “identidade”.
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