EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “100 Anos - 100 Fotografias - Democracia”,
de Alfredo Cunha
Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz - Salas 2 e 3
07 Dez 2023 > 31 Dez 2024
“Nesse tempo não se ficava à espera que a História viesse ter connosco.” Quem o diz é Alfredo Cunha, fotógrafo nascido em Celorico da Beira, em 1953, e autor das famosas séries fotográficas dedicadas ao Dia da Liberdade e à descolonização portuguesa, entre muitas outras. Foi ele quem, a 28 de Abril de 1974, “com 20 anos de idade, três dias de Liberdade e poucas horas de sono desde que fotografara a queda da ditadura”, seguiu para Vilar Formoso ao serviço do jornal O Século, “para esperar a chegada de um tal Mário Soares”. Conhecia o nome, mas não o aspecto do co-fundador do Partido Socialista e sua figura referencial. Já dentro do comboio, viu-se a percorrer as carruagens e a dizer o nome, até ver à sua frente um homem sorridente e bem disposto e uma senhora contida e muito educada. “Era o casal Soares”, recorda. A viagem até Lisboa prolongou-se por muitas horas, já que o Sud Express ía fazendo paragens de todo o tipo devido às manifestações que aguardavam a sua passagem. Já em Santa Apolónia, despediram-se com um aperto de mão. “Apareça”, disse o político ao jornalista. E Alfredo Cunha foi aparecendo.
Realizada no âmbito das Comemorações do Centenário do Nascimento de Mário Soares, a exposição “100 Anos – 100 Fotografias - Democracia”, da autoria de Alfredo Cunha, está prestes a chegar ao fim, depois de ter estado patente mais de um ano nas salas 2 e 3 do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz. Através das imagens que a compõem, a exposição é um livro aberto sobre alguns dos momentos mais marcantes da vida política portuguesa e daquele que foi um herói da liberdade, europeísta convicto e pai da democracia. Embora a primeira imagem seja a de Mário Soares e Maria Barroso ainda no combóio a caminho de Lisboa (ela com um ramo de flores, ele com a edição do Expresso sobre os joelhos e um cravo na mão direita, ambos sorridentes), a mostra não segue à risca uma cronologia dos acontecimentos. Tão pouco se pode dizer que esteja organizada em blocos, apesar de nela encontrarmos assuntos significativos, da campanha para as Presidenciais de 1986 às recepções e visitas de Estado, das Presidências Abertas aos momentos de lazer ou de comunhão com a família.
A par de momentos históricos tão marcantes como os encontros com Willy Brandt, Vaclav Havel ou Yasser Arafat, a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE ou os banhos de multidão, em Guimarães ou na Guarda, em Peniche ou em Almeida, avulta nesta exposição o olhar do fotógrafo, a sua intuição para saber posicionar-se no sítio certo, as suas imagens a denotarem uma extraordinária atenção ao detalhe e um refinado sentido de humor. A faixa que Gorbatchov ostenta e que tem o seu contraponto no apoio de braço e na gravata de Mário Soares, o aparente desinteresse de Soares e do Presidente chinês Jiang Zemin às palavras do intérprete, a criança prestes a desferir uma martelada no S. João do Porto, ou a conversa que mantém com um surfista na ilha de Faro, são apenas alguns exemplos da arte e engenho notabilíssimos de Alfredo Cunha. E é sempre bom recordar, nas imagens de Soares, as figuras de Amália Rodrigues e Maria João Pires, Eduardo Lourenço e Miguel Torga, um submarino no Alfeite, uma regata de barcos rabelos, um passeio em charrete na Tapada de Mafra ou a paisagem árida da Ponta dos Capelinhos, no Faial.
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