EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Pinturas do Silêncio”,
de Maria Antónia Santos
Organização e curadoria | António Santos Meireles, Amélia Soares
Museu Municipal de Espinho
27 Jul > 28 Set 2024
“Expondo exponho-me. O medo é sempre presente porque não gosto de me expor e me obriga a um olhar atento sobre mim e o meu trabalho. Gosto do silêncio, um silêncio gordo e quente, outras vezes um silêncio gelado que corta. O meu trabalho é fruto dos muitos silêncios, de memórias, de olhares... Esta exposição é tudo isso, para trás ficou a figuração a qual já nada me dizia, me controlava. Gosto da matéria, tocando-a de a sentir, de explorar materiais os mais inusitados, utilizá-los e por vezes destruí-los. Assim se gera o trabalho em luta silenciosa.”
Há ervas açoitadas pelo vento, pontas de cordas que o mar despejou na praia, roupa a secar num varal. Há um buraco na parede, dois corpos que se abraçam do outro lado da cerca, um Verão contra o muro esparrinhado. Há livros em desalinho sobre uma mesa, uma fruteira com limões, uma janela aberta sobre a paisagem. Há um galo altivo de crista vermelha, um cavalo-marinho em equilíbrio instável, pássaros que se passeiam no sonho. Um peixe tenta furar a floresta de algas, uma lebre sobe velozmente a duna de areia. Para além da ponte adivinha-se o meandro de um rio. Há ondas que se desfazem com estrépito de encontro às rochas e um barco de vela latina, “como um deus passeando pela brisa da tarde”. Há palavras que são como arame farpado no fim de um mar que é só de alguns. Há um ruído surdo num pingo de sangue e uma palavra muito bela numa caligrafia insegura: Contigo. Há cores (poucas) e há silêncio (muito).
Como um longo e belo poema, assim é “Pinturas do Silêncio”, de Maria Antónia Santos, exposição antológica que abrange um arco temporal de 2010 a 2024 e pode ser vista até ao dia 28 de Setembro nas Galerias Amadeo de Souza-Cardoso do Museu Municipal de Espinho. Feito de gestos delicados e de palavras subtis, o trabalho da artista preenche de poesia o espaço do Museu, convidando o visitante a encontrar nele a sua própria identidade, no que nela há de concreto ou no que nem nos sonhos se adivinha. “Existir é beber não porque se tenha sede”, dizia Annie Ernaux no seu livro “Os Anos”, levando-nos a olhar para o que é dado por adquirido, no qual não se atenta e que, todavia, vive em nós e faz viver. Então, num golpe de magia, a vida irrompe da tela, abraçando-nos naquilo que nela há de mais palpável, na calma como na tempestade, na dor como no amor.
Maria Antónia Santos nasceu e vive em Lisboa. Formada pela Escola de Artes Decorativas António Arroio e licenciada em Pintura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em França, onde aprofundou os seus conhecimentos em Tapeçaria. A artista também fez parte do corpo docente da Escola Artística António Arroio e é membro da Association International des Arts Plastiques (UNESCO), tendo representado Portugal na “8th International Tapestry” em Lodz, Polónia. Realizou exposições em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, França, Polónia e Finlândia. Foi premiada com Menções Honrosas em Barcelona e Estoi, medalhas de Bronze em Portimão e Estoril e com o 2º Prémio ERA ART de Gdynia, Polónia. A sua obra faz parte de colecções particulares em França, Reino Unido, Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, França, Polónia e Finlândia.
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