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terça-feira, 9 de abril de 2024

CINEMA: "Uma Vida Singular"



CINEMA: “Uma Vida Singular” / “One Life”
Realização | James Hawes
Argumento | Lucinda Coxon, Nick Drake
Fotografia | Zac Nicholson 
Montagem | Lucia Zucchetti
Interpretação | Anthony Hopkins, Lena Olin, Johnny Flynn, Helena Bonham Carter, Tim Steed, Matilda Thorpe, Daniel Brown, Alex Sharp, Jirí Simek, Romola Garai, Barbora Váchová, Juliana Moska, Jolana Jirotková, Michal Skach, Samuel Himal, Matej Karas
Produção | Iain Canning, Guy Heeley, Joanna Laurie, Emile Sherman
Reino Unido | 2023 | Biografia, Drama, História | 109 Minutos | Maiores de 12 anos
UCI Arrábida 20 – Sala 2
08 Abr 2024 | seg | 16:30


O ano é o de 1938 e as provocações da Alemanha nazi fazem adivinhar a eclosão de um novo conflito à escala mundial. A perseguição ao povo judeu intensifica-se, com milhões de deslocados ou confinados em guetos, e disto toma conta um corretor da bolsa em Hampstead, um bairro a norte de Londres. Chama-se Nicholas Winton e sente que precisa de fazer alguma coisa para minimizar o sofrimento de tanta gente. Parte para Praga, decidido a estabelecer negociações com os representantes alemães e a conseguir a permissão para que o maior número possível de crianças possa atravessar as fronteiras da Checoslováquia e encontrar uma família de acolhimento no Reino Unido. Entretanto, conforme temia, a II Guerra Mundial tem início e a missão tem de ser interrompida. No total, serão 669 as crianças resgatadas. O esforço heróico de Winton permaneceu anónimo até 1988, quando aquele que ficou conhecido como o “Schindler britânico” decidiu que o mundo precisava de saber esta história de coragem e altruísmo.

A sétima arte tem na segunda Guerra Mundial um filão inesgotável. O drama, como a aventura ou romance, encontram ali campo fértil para se estabelecerem, oferecendo ao espectador histórias de bravura, nobreza, tenacidade ou o seu contrário, trazendo ao de cima o que de melhor (e de pior) tem o ser humano. “Uma Vida Singular” opera neste domínio, contando a história de um homem que resgatou centenas de crianças judias das garras do regime de Hitler. Uma história caucionada pelo real - em 2003, Winton foi nomeado cavaleiro pela Rainha Isabel II pelo seu trabalho humanitário e a República Checa atribuiu-lhe a medalha da Ordem do Leão Branco, a maior condecoração que uma pessoa pode receber naquele país -, que nos apresenta a dura realidade dos campos de refugiados em Praga, o trabalho abnegado de gente que arriscou diariamente a vida em prol dos outros e as consequências desses actos de verdadeiro heroísmo.

Mas é 50 anos após os acontecimentos que uma parte importante da história se escreve, com Nicholas Winton a rondar já os 80 anos e sentir-se desconfortável com o seu legado ao olhar para trás. Tantos anos depois, continua a não ser fácil lidar com as vidas que não conseguiu salvar, interrogando-se se deveria ser reconhecido pelos seus méritos ou se mais vale permanecer no anonimato. Mas quando se dá conta que, tantos anos depois, aqueles que salvou se encontram vivos e lhe estão gratos, ele aproxima-se definitivamente dos frutos de seu enorme esforço e sente que nada do que fez foi em vão. Filme de uma sinceridade desarmante, “Uma Vida Singular” vem dizer-nos que há preceitos e valores que devem estar acima de tudo quando se trata de salvar uma vida humana. Com uma interpretação franca e comovente, Anthony Hopkins é determinante para conferir verdade e coerência ao filme. Pode não ser uma obra-prima absoluta, mas é daqueles filmes que é forçoso ver.

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