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terça-feira, 23 de abril de 2024

CINEMA: "O Poder da Terra"



CINEMA: “O Poder da Terra” / “Chlopi”
Realização | DK Welchman, Hugh Welchman
Argumento | DK Welchman, Hugh Welchman
Fotografia | Szymon Kuriata, Radek Ladczuk, Kamil Polak
Montagem | Beata Hincke, Patrycja Piróg, Miki Wecel, DK Welchman
Interpretação | Kamila Urzedowska, Robert Gulaczyk, Miroslaw Baka, Sonia Mietielica, Ewa Kasprzyk, Cyprian Grabowski, Mateusz Rusin, Cezary Lukaszewicz, Dorota Stalinska, Helena Korczycka, Andrzej Mastalerz, Andrzej Konopka, Sonia Bohosiewicz
Produção | Sean M. Bobbitt, Hugh Welchman
Polónia | 2023 | Animação, Drama, História | 114 Minutos | Maiores de 14 anos
UCI Arrábida 20 - Sala 7
22 Abr 2024 | seg | 16:05


“O Poder da Terra” é um filme de animação e, simultaneamente, uma ficção histórica sobre a vida na Polónia rural no início do século XX. A história centra-se em Jagna, uma mulher pobre que vive na aldeia de Lipce. Dotada de uma grande sensibilidade, gosta de fazer recortes em papel, mas sabe que a arte não é caminho viável num meio onde a ambição não vai além de uma boa colheita e a desconfiança e a tacanhez se impõe nas conversas e nas atitudes. Acabado de enviuvar, o primeiro agricultor, de entre todos o mais rico, acaba por despojar Jagna, cujo coração pende para um dos enteados. Numa cidade pequena e coscuvilheira, são poucos os segredos que podem permanecer ocultos e Jagna acaba por ser apanhada pelo marido e o castigo não tarda em chegar. Entretanto, a aldeia vive momentos de crise, com a perda das colheitas, e é necessário encontrar um bode expiatório. Jagna será maltratada e vilipendiada, acabando por ser expulsa da aldeia.

É difícil ver “O Poder da Terra” como um filme de animação, de tal forma estamos habituados ao estilo específico de uma Disney ou de uma Pixar. Animação é sinónimo de desenho animado, feito para ser algo que claramente não tem base no realismo. Mas olhamos para este filme e estamos, obviamente, no domínio da animação. Cada fotograma parece uma pintura exibida nas paredes de um museu que, como por magia, ganha vida. Um rubor nas bochechas de Jagna, um brilho nos olhos de Antek, um sorriso nos lábios, falam-nos de arte em movimento entendida de uma forma literal. As personagens não parecem ter sido criados apenas para o filme. Os seus movimentos são naturais, há emoção no seu olhar, e isto deve-se à rotoscopia, um processo de animação utilizado com maestria pela dupla de cineastas DK e Hugh Welchman. Um processo lento e meticuloso que permite recriar rostos e ambientes, roupas e movimentos, e que resulta num deleite visual absolutamente cativante.

Baseado numa obra em quatro volumes de Władysław Reymont, escritor e romancista polaco galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1924, “O Poder da Terra” lança um olhar sobre a liberdade da mulher no início do século XX. Ambiciosa, a adaptação cinematográfica procura abranger os acontecimentos dos quatro volumes, o que fatalmente joga contra si. Parece faltar alma às personagens, órfãs de um desejo profundo que explique as suas motivações. Há folclore a mais, e momentos introspectivos de construção e desenvolvimento das personagens a menos. Apesar destes problemas estruturais, seria injusto não valorizar o filme, sobretudo naquilo que ele tem de labor artístico. Foram mais de duzentas mil horas a criar as pinturas a óleo que dão origem ao movimento que o público vê no ecrã. Artistas da Polónia, Lituânia, Ucrânia e Sérvia juntaram-se para tornar possível este filme, e a experiência visual de “O Poder da Terra” é algo de verdadeiramente inesquecível.

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