CINEMA: “O Pub The Old Oak”,
Realização | Ken Loach
Argumento | Paul Laverty
Fotografia | Robbie Ryan
Montagem | Jonathan Morris
Interpretação | Dave Turner, Ebla Mari, Claire Rodgerson, Trevor Fox, Chris McGlade, Col Tait, Jordan Louis, Chrissie Robinson, Chris Gotts, Jen Patterson, Arthur Oxley, Joe Armstrong, Andy Dawson, Maxie Peters
Produção | Rebecca O’Brien
Reino Unido | 2023 | Drama | 113 Minutos | Maiores de 14 anos
Cinema Vida Ovar
18 Nov 2023 | sab | 12:10
O The Old Oak é um sítio especial. É-o, não apenas por ser o último pub que resta numa pequena vila do norte de Inglaterra - uma comunidade mineira outrora próspera que se vê confrontada com tempos muito difíceis após trinta anos de declínio -, mas também porque resiste como o único espaço público onde as pessoas ainda se podem encontrar e conviver. TJ Ballantyne (Dave Turner), o proprietário, vê-se a braços com enormes dificuldades financeiras e é de forma tenaz que procura manter viva a velha chama do The Old Oak. A situação, porém, torna-se particularmente delicada com a chegada inesperada de um grupo de refugiados sírios e é num contexto de grande tensão que TJ trava amizade com Yara (Ebla Mari), jovem refugiada apaixonada por fotografia. Juntos, tentam reanimar a comunidade local, criando uma cantina para os mais pobres, independentemente da sua origem. O projecto acabará por ruir, mas sementes foram lançadas naquele chão pedregoso e, a seu tempo, irão florir.
Drama profundamente comovente sobre as fragilidades e esperanças de um pequeno grupo de pessoas, “O Pub The Old Oak” toma a discriminação e a xenofobia como assuntos fulcrais, ao olhar de perto um grupo de refugiados sírios que encontram na aldeia novos lares, para desgosto absoluto dos frequentadores do pub que lhes mostram que não sem bem vindos. Fazem-no numa linguagem muito mais “floreada” do que a simples menção de que voltem para as suas casas, o que torna a situação particularmente dolorosa quando percebemos estar perante famílias inteiras que perderam tudo, que delas têm pouco mais do que a roupa do corpo, e que se encontram expostas às mais abjectas formas de repúdio e humilhação. A arte de Ken Loach está em conferir ao drama uma dimensão gigante, partindo de uma narrativa cujas premissas são deveras simples. No seu estilo despretensioso, o octogenário realizador britânico volta a tocar nas cordas da nossa humanidade, fazendo da força, da solidariedade e da resistência as chaves da relação com os mais frágeis e desprotegidos.
Supostamente o último filme de Ken Loach, “O Pub The Old Oak” é um canto do cisne excepcional do maior cineasta britânico vivo. Continuar a ser capaz de nos oferecer obras tão emocionalmente verdadeiras como “Chuva de Pedras”, “Passámos por Cá” ou “Eu, Daniel Blake”, vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2016, é uma verdadeira prenda para os cinéfilos. Não poderia ser mais eloquente a forma como Loach desmonta as incongruências e a mesquinhez que se abrigam nos comportamentos xenófobos, combatendo-os com as armas da generosidade, da compaixão e da empatia. É a resposta do cineasta a uma Grã-Bretanha que perdeu o rumo enquanto país, uma resposta que se estende a um mundo que perdeu o rosto enquanto humanidade. Um filme emocionante, de enorme beleza e significado, que tem o condão de apontar caminhos para que possamos voltar a ser gentis uns com os outros, nesta casa que é de todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário