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sexta-feira, 18 de agosto de 2023

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Febre"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Febre”,
de António Júlio Duarte
Conceito | António Júlio Duarte, Paula Fernandes
Organização | Fundação de Serralves
Galeria Contemporânea do Museu de Serralves e Capela da Casa de Serralves
26 Mai > 12 Nov 2023


Primeira exposição de António Júlio Duarte em Serralves, “Febre” reúne uma série de trabalhos realizados entre 2019 e 2022, em plena pandemia. Limitado na sua mobilidade, também o artista se viu obrigado a trocar o seu território de eleição — as ruas das cidades dos países que visita — pelos quartos da casa onde habita ou pelo exterior imediatamente próximo e visível. Fê-lo com recurso a uma Olympus Mju II Point & Shoot, o tipo de câmaras geralmente usadas pelas famílias para fazer fotografias com facilidade e alguma qualidade, mas caídas em desuso ao serem substituídas pelo telemóvel para esse fim. António Júlio gostou da proximidade aos objetos fotografados que esta Olympus permitia, por ser uma câmara pequena e portátil que fotografa a distâncias curtas. A câmara tornou-se assim um acessório de proximidade que possibilitava, de forma perfeita, o enquadramento delimitado do território fotografado, o “lado apontador da fotografia” que indica o real de forma pura e lúcida.

O recorte que António Júlio Duarte captava ao deambular entre continentes, em diferentes geografias, vê-se “confinado” a uma geografia de proximidade. As ruas dão lugar aos corredores da casa e os locais exteriores revelados pela sua lente, habitualmente de médio formato, deslocam-se para os cantos e recantos domésticos. O que mudou nesta série em relação ao passado? A técnica, o contexto e o formato. O formato quadrado da imagem passa a ser retangular. A imagem captada é aquela que o artista preestabelece na sua mente, sem que o seu enquadramento seja necessariamente feito através da objetiva da câmara. No entanto, algo permanece: o acaso que alimentava as suas imagens anteriores também alimenta as actuais, mas de forma diferente; a urgência com que trabalhava quando tinha que se deslocar para fora do país é a mesma, mas dá agora lugar a uma continuidade de imagens sem um propósito aparente, uma espécie de letargia febril e inconsistente.

“Febre” é, muito justamente, o título dado a esta exposição o qual tem aqui uma importância fundadora, sendo ponto de partida para a sua criação. As imagens são inéditas e trabalhadas para esta apresentação, que de um estado febril são transportadas para uma consciência presente de um passado eminente. Se o artista trabalha com a energia dos locais que fotografa, “Febre” reflete uma natureza estranha, ao mesmo tempo realista, mas com laivos de sobrenatural, de excesso, composta de sombras, de luz, de forma e de cor. O meio fotográfico é o suporte artístico da imagem como recorte de um momento concreto e absoluto da realidade, cujo conteúdo é a soma de todos os elementos, acrescentado o eu do artista. Entre a comoção e a emoção, “Febre” revela o poder de uma pequena máquina fotográfica, transformando um mero observador da realidade num verdadeiro artista. Não importa a dimensão dos mundos que habitamos, a fotografia revela o seu caráter universal, reconhecível e avesso a fronteiras.

[Texto composto a partir do Roteiro da Exposição]

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