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sábado, 5 de agosto de 2023

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Devagar"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Devagar”,
de Ângela C.
Curadoria | Mário Afonso
27º Festival de Cinema Avanca
Estação, Canelas
28 Jul > 31 Ago 2023


Até ao final do mês há para ver “Devagar”, no bonito e bem cuidado espaço Estação, no apeadeiro de Canelas. Exposição de fotografia da transmontana, artista visual, poeta e professora universitária Ângela C., a mostra surge no âmbito da 27ª edição do Festival de Cinema Avanca e apresenta-se como um conjunto de “imagens afeiçoadas a uma viagem, uma paragem, Gil Eanes no seu enclave de luz.” São “variações de Câmara Clara”, em que a câmara é a sala da artista, janela aberta sobre um mundo em perpétuo movimento, palco de gaivotas no seu voo distendido, de homens e mulheres em pausa contemplativa, de nuvens que se fazem e desfazem num líquido bailar, de águas turvas de um rio prestes a lançar-se no mar. Uma “câmara” que é um convite a estar, a desfrutar o espiralado sorriso de um jarro, a luz que conforma as sombras, um preto e branco que se abre em azuis, o desafio entre o dentro e o fora, um barco que vira as costas ao mar.

“No princípio era a Rolleiflex, a do pai, que lhe mostrava nuvens a partir do movimento de uma moto, a Norton, em Trás-os-Montes, entre figos, pavias, uvas, queijo de cabra, azeitonas, pão centeio e um rio.” Assim começa o texto de Ângela C. sobre esta sua exposição, no qual a artista nos fala de uma “pulsão inominável, indomável”, que a acompanha desde o “princípio” e da qual emergem ora uma vaca ora uma cegonha ora uma gaivota. “Desta vez emergiu um navio”, palavras que ganham sentido ao vermos que são dirigidas a um Navio-Hospital dos mares da Gronelândia, resgatado do sucateiro em 31 de Janeiro de 1998 e transformado em espaço museológico, aberto ao visitante na marginal ribeirinha da cidade de Viana do Castelo. “Cumpre-se mais um paradoxo de que ela [Ângela C.] tanto gosta, o paradoxo do real num ‘shaker’ onde os ingredientes são sempre a procura de atemporalidade e a visão objectiva do real.”

“Devagar” é para ser vista… devagar! Para velocidades já basta a presença regular dos comboios que, na sua ânsia de cumprir horários, se lançam numa fúria desmedida capaz de parar o tempo enquanto se revelam, ruidosos e fugazes, de passagem pelo apeadeiro. Este contraste entre o movimento em turbilhão e um tempo estagnado é apenas um de muitos que podemos apreciar no momento de observar as imagens. Sentir esse tempo é entrar no mundo da artista. É sentir-lhe o respirar, o gesto detido, o pensamento que flui enquanto o olhar avança ao encontro de um mundo tornado seu pela constância e firmeza que o animam. É perceber-lhe o sentir e ver como faz uso da câmara de um simples telemóvel para guardar “os valores de quem pára e se rende activamente ao infinito movimento de que faz parte.” É viver um momento de partilha que se faz presente num espaço e num tempo que é também nosso. Que sorvemos devagar.

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