EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Dentro e Fora”,
de Jorge Kol
Curadoria | José Franco
Centro Cultural de Santa Cruz das Flores, Açores
Inauguração em 12 Jun 2023
Desde o passado dia 12 de Junho, está patente ao público no Centro Cultural de Santa Cruz das Flores a exposição “Dentro e Fora”, da autoria de Jorge Kol. Nascido em 26 de Abril de 1948 na Terra Chã, Angra do Heroísmo, Jorge Kol fez no IPF, em 1968, a sua formação de iniciação à fotografia. Em 1971 concluiu a licenciatura em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, o que o ocupou profissionalmente ao longo de 42 anos. Só em 2012 retomou a Fotografia, fazendo dela sujeito e complemento do seu modo de estar na vida, “arquitectando”, mas agora “só o que lhe apetece, quando quer, no que quer, com quem quer e devagar, saboreando a vida que é uma festa”. É nesta linha que o seu olhar vagueante pela cidade vai ao encontro de uma urbe que se disponibiliza à sua marcha. Só ele sabe o seu próprio destino, só ele percorre com vagar e vigor ruas e atalhos que a si se mostram e, que no limite, irão dar a um lugar interior. Um lugar apenas dele, tornado nosso pelo gesto da partilha neste “Dentro e Fora” no qual importa atentar.
Vendo as imagens que compõem esta exposição, percebemos que Jorge Kol parte do que julga fora do plano, esse desejo externo passeante ao sabor das horas e dos dias, para observar o que se encontra dentro. É uma imersão no real fugaz, em exploração furtiva, para contemplar de forma errante a fractura citadina exposta. Jorge Kol é, nas palavras de Dr. Mara, um “flâneur”, alguém que transporta consigo uma máquina fotográfica onde lentamente repousa o olhar, atento à força particular a que ele não pôde escapar do outro, ao esgar de quem foi observado, mantendo a sua própria visão, colhendo cada gesto e pose individual. O flâneur é, sobretudo, um passeante que fixa o espectáculo da vida e do mundo, nada lhe é indiferente, nem a passagem do tempo. Ele pretende, assim, que o observemos em modo vagabundo. Em plena consciência ambulante. À semelhança do voyeurista, o flâneur quer ver tudo, captar os gestos visíveis e invisíveis, mergulhar internamente nos espaços urbanos, por vezes ocultos, e, por instantes, vagabundear pela perspectiva da luz que nos espelhos se abre e projecta. Até onde?
Junto dele, permanecemos firmes e, à semelhança de sombras, duvidamos, aceitando os estilhaços da visão. Por sinal, é um mosaico em forma de espelho, prestes a ser mascarado, vendido, iludido. Há alguma verdade nas imagens? Em jeito deambulante, façamos o esforço de aproximação, de modo a que os sentidos explodam e rebentem nessa manifestação visual que mistura aparências e evidências que ajuizamos de fora, mas que, na verdade, podem ser detectadas dentro. O interior é o movimento de quem investe, de quem quer ir mais fundo! Resta-nos, e não é pouca coisa, a poesia do flâneur, o que ele decidiu resgatar à sombra em forma de luz. Ainda iludidos, aguardando contemplar o que está mais além de cada fotografia.
[Texto baseado na folha de sala que acompanha a exposição, da autoria de Dr. Mara]
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