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domingo, 14 de maio de 2023

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA: Projecto Manoeuvre


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ESCULTURA: Projecto Manoeuvre
Mostra Colectiva
Curadoria | Jorge Salgueiro
5ª Bienal Internacional de Arte Gaia
Quinta da Fiação de Lever
08 Abr > 08 Jul 2023


Continente convidado da 5ª Bienal Internacional de Arte de Gaia 2023, África está em destaque através do Projecto Manoeuvre, dando prova da diversidade e expressividade intrínsecas da sua Arte Contemporânea. Manoeuvre é um movimento de artistas, curadores, mecenas, que se propõe contar a história dos percursos artísticos do continente iniciático da história da humanidade: África. Focado na descoberta de talentos, na valorização das suas obras, na divulgação artística e na preservação de tradições, este projecto procura reviver os vínculos de África com o resto do mundo, criando laços e mostrando a importância e o peso que as suas culturas tiveram para o desenvolvimento do Homem. Na Quinta da Fiação de Lever, o projecto ocupa uma extensa zona de um dos três pavilhões que albergam obras de mais de trezentos artistas representados na Bienal, e tem curadoria de Jorge Salgueiro. Entre a pintura e a escultura, é lá que nos cruzamos com as propostas artísticas de moçambicanos como Malangatana ou Alberto Chissano, Nino Trindade ou Butcheca, angolanos como Nelo Teixeira, Lino Damião e Xesco ou com o cabo-verdiano Manuel Figueira.

Figurativa ou abstracta, performativa ou bruta, a arte que aqui se mostra surge com o cunho de “arte africana”, no qual reside essa espécie de convite a identificar nas peças uma pretensa indissociabilidade de traços entre a arte e a cultura africanas. Procuro afastar do horizonte a ideia de “folclorismo” e pergunto-me se o termo “africano” traz algum valor acrescido à Arte. No fundo, aquilo que quero realmente é ver estas peças como “arte” e não como “arte africana”, algo que as primeiras obras que observo - belíssimas, diga-se -, da autoria de Malangatana e Alberto Chissano, não parece contrariar. A confirmação vem com Batcheca ou, mesmo ali ao lado, com o núcleo escultórico que coloca em diálogo Nino Trindade e Mapfara, fazendo a simbiose entre o barro e o engobe, o sândalo e o metal.

A guerra não é exclusivo de África, mas é uma realidade que toca no presente uma grande quantidade de países daquele continente e que a escultura de Gonçalo Mabunda traz à discussão. Construída a partir de munições desactivadas, a peça não tem título mas é impossível não ver nela um trono onde se sentam os senhores da guerra e que convoca, ainda que metaforicamente, a lei do mais forte. Em absoluto contraste com esta escultura “bélica”, as peças em barro que se abrigam aos seus pés, com assinatura de Samuel Muankongue e Reinata Sadimba, são doces na forma e no gesto, delas emanando sentimentos fortes que remetem para a protecção, a maternidade, a amizade, o amor. No campo da pintura, Lulu Maparangue oferece-nos dez trabalhos que resultam expressivos, as cores fortes, os corpos esguios, os rostos que se desdobram numa ideia de movimento. Mais do que os anteriores, Kheto Lualuali acaba por prender a minha atenção pela forma pouco óbvia como combina as cores e ainda por uma certa indefinição dos objectos na tela, num convite à idealização e ao sonho. Incontornável no conjunto das exposições que integram a Bienal, o Projecto Manoeuvre pode ser visto até ao próximo dia 08 de Julho.

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