EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Lúgubre”,
de Filipe Braga
Museu Municipal de Espinho | Galerias Amadeo de Souza-Cardoso
28 Jan > 01 Abr 2023
Coerente com os princípios de qualidade e exigência que vêm norteando a programação do Museu Municipal de Espinho, encontra-se patente ao público, por estes dias, a exposição de fotografia “Lúgubre”, de Filipe Braga. Preenchendo um arco temporal que vai de 2007 a 2022, a mostra apresenta-se no belíssimo espaço das Galerias Amadeo de Souza-Cardoso e é definida pelo artista como “uma viagem interior”. As imagens que se oferecem ao nosso olhar são a expressão de um sentir profundamente introspectivo e íntimo, face à forma como o artista vê o mundo actual. Entre o real e o encenado, são imagens que Filipe Braga correlaciona com a verdade e que se inscrevem em temas assentes na vida e na morte: Despojamento, asfixia, abandono, raiva, frio, nudez, silêncio. “O sangue coagulado. O silêncio do sangue”.
Com uma estética própria, enraizada na abstracção e na inquietude, Filipe Braga prende a atenção pela forma como explora a gradação do preto e branco, numa deriva pela neutralidade das cores que resulta intencional e profundamente perturbadora. A apropriação da fotografia para, através dela, questionar o mundo que o rodeia, está na base do trabalho do artista. Mimetizando as imagens, as respostas oferecem-se entre o objectivo e o enigmático, o provocante e o abstracto, ora nítidas ora indefinidas. Qual o significado de uma lua em quarto crescente, de um saco de plástico à volta da cabeça, de uma mão do lado de lá do vidro, de um Cristo crucificado? Preso à marcha inexorável do tempo, àquilo que é incerto ou indefinido, a uma pandemia que nos tirou o ar ou à fé que perdemos, o pensamento procura alinhar-se com o do artista. As interrogações cruzam-se, prolongam-se, multiplicam-se. (“Cá dentro inquietação, inquietação.”)
Em “Lúgubre”, Filipe Braga quis ter ao seu lado cinco artista com quem tem uma relação próxima e que são referências incontornáveis e fonte de inspiração dos seus trabalhos. Desde logo o pai, José Luís Braga, a quem o artista se refere como o seu “primeiro grande mestre”. Depois o escritor Daniel Jonas, autor da sinopse em forma de poema que nos acolhe à entrada das Galerias. E ainda os artistas Lázaro Pinto da Silva, Luís Zuluaga e Ricardo Raminhos, respectivamente autores de uma instalação, de uma pintura e de uma belíssima instalação vídeo denominada “The Human Show Stall”. São diálogos que reforçam essa ideia de busca e de reinterpretação impressa no trabalho do artista. “Lúgubre” é uma exposição que reafirma a ligação entre a arte e a vida, disposta a inquietar-nos, mais do que a apaziguar-nos. Um conjunto de imagens que mostra que o bem e o mal não são uma questão de cor e que é no silêncio que se abrigam todos os ruídos do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário