CINEMA: “Regresso a Seul” / “Retour à Séoul”
Realização | Davy Chou
Argumento | Davy Chou
Fotografia | Thomas Favel
Montagem | Dounia Sichov
Interpretação | Park Ji-min, Oh Kwang-rok, Guka Han, Kim Sun-young, Yoann Zimmer, Louis-Do de Lencquesaing, Jin Heo, Hur Ouk-Sook, Son Seung-Beom, Dong Seok Kim, Emeline Briffaud, Lim Cheol-Hyun, Régine Vial, Cho-woo Choi, Ioana Luculescu
Produção | Katia Khazak, Charlotte Vincent
França, Alemanha, Bélgica, Coreia do Sul, Roménia, Cambodja, Qatar | 2022 | Drama | 115 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
16 Mar 2023 | qui | 16:00
Apresentado na secção “Un Certain Regard”, na última edição do Festival de Cannes, “Regresso a Seul” é a segunda longa-metragem de ficção de Davy Chou. Um filme livremente inspirado na história real de Laure Badufle, amiga do realizador, nascida na Coreia do Sul e adoptada em bebé por um casal francês. No filme, Laure é Freddie e é ela quem, movida por um turbilhão de sentimentos, nem todos de igual sentido, decide partir em busca das suas origens, ao encontro dos seus pais biológicos e dos motivos que os levaram a abandoná-la. Entre o medo do desconhecido e uma vontade férrea de se pôr à prova num dos aspectos mais marcantes da sua vida, a jovem decide abraçar um conjunto de desafios que a conduzirão por caminhos tortuosos, mas no final perceberá a importância dessa jornada de transformação e de descoberta de si mesma.
Detentor de dupla nacionalidade franco-cambodjana, Davy Chou sentiu-se particularmente tocado por esta peculiar trajectória de vida, fazendo dela o assunto do filme. Narrado em tempos diferentes, “Regresso a Seul” começa por nos convidar a seguir Freddie (Park Ji-min), a personagem central do filme, confrontando-nos com um choque cultural e emocional que a forçará a fazer opções após uma curta estadia de duas semanas em Seul. Os programas de adopção por casais de estrangeiros de bebés coreanos é uma marca da Guerra da Coreia que perdura até aos nossos dias e esta realidade social coloca o filme com um pé no documentário. Na segunda parte, cinco anos mais tarde, a história toma um rumo diferente e encontramos Freddie já estabelecida na Coreia do Sul, praticamente adaptada a um novo ambiente percebido inicialmente como “tóxico”, mas onde as forças e a confiança acabarão por se impor com o passar do tempo.
No papel de Freddie, Park Ji-min faz a sua estreia em cinema. Traduzindo com precisão toda uma gama de emoções no espaço de um olhar ou de um gesto, esta actriz não profissional mostra-se espontânea e livre, compondo um belo retrato de uma personagem profundamente dividida, mas disposta a seguir em frente por muito que as adversidades a possam fustigar. Enigmática e imprevisível, nadando entre duas águas em busca da sua própria identidade, a actriz consegue ser profundamente verdadeira na forma como se reinventa e reafirma. A enorme palete de emoções que se desprende de “Regresso a Seul” tem nos actores secundários um suporte enorme, mas é Park Ji-min que enche o ecrã com o seu olhar desafiador, mas onde a dúvida e o medo, embora subtis, são figuras constantes. Nota alta para este filme de Davy Chou, quase minimalista nos aspectos mais formais, mas com uma enorme riqueza de sentimentos abertos ao escrutínio e à partilha.
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