CINEMA: “As Bestas”
Realização | Rodrigo Sorogoyen
Argumento | Isabel Peña, Rodrigo Sorogoyen
Fotografia | Alejandro de Pablo
Montagem | Alberto del Campo
Interpretação | Marina Foïs, Denis Ménochet, Luis Zahera, Diego Anido, Marie Colomb, Luisa Merelas, José Manuel Fernández y Blanco, Federico Pérez Rey, Javier Varela, David Menéndez, Xavier Estévez, Gonzalo García, Pepo Suevos, Machi Salgado, Luis P. Martínez
Produção | Ignasi Estapé, Anne-Laure Labadie, Jean Labadie, Nacho Lavilla, Thomas Pibarot, Rodrigo Sorogoyen
Espanha, França | 2022 | Drama, Thriller | 137 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
24 Mar 2023 | sex | 18:15
Com o avançar da idade, Antoine e Olga decidem partir da sua França natal e viajar até à vizinha Espanha, onde se propõem abraçar o projecto de uma quinta biológica numa aldeia de montanha no interior da Galiza. O acolhimento que a maioria dos aldeões lhes presta bascula entre o tímido e o caloroso, mas alguns há que fazem questão de mostrar que a presença do casal francês não é bem-vinda. Educado, culto e viajado, Antoine torna-se no alvo preferencial desta minoria, em especial dos irmãos Xan e Lorenzo, que não perdem uma oportunidade de o pôr em causa. Retraído de início, o homem acaba por responder à letra aos agressores, apesar dos avisos da esposa. Enredado numa espiral de violência, o trio abraça um confronto do qual ninguém sairá vencedor.
O ambiente de tensão começa a insinuar-se logo na cena inicial, na qual homens descomunais tentam, com as mãos nuas, imobilizar cavalos selvagens e aparar-lhes as crinas, uma tradição ancestral que toma o nome de “rapa das bestas” e que é uma forma de prevenir as infestações por parasitas. Trata-se de uma empresa não isenta de riscos, que remete para a Natureza e para a forma como determina o comportamento dos seres humanos. Mas por mais bela e pura que possa mostrar-se, há nela algo de ameaçador que permanece latente. Antoine e Olga devotam-se duramente ao seu pedaço de terra, mas o factor de imprevisibilidade está lá, à espreita, e é suficientemente forte para que nada possa ser dado por adquirido. Se, a juntar a isto, temos nos vizinhos uma preocupação adicional, percebemos que o caminho que se abre à nossa frente pode ser tudo menos fácil.
Grande vencedor dos prémios Goya em 2022, “As Bestas” alimenta-se dessa enorme tensão emocional entre um insanável conflito pessoal e a imprevisibilidade da natureza. Sorogoyen explora de maneira intensa as emoções que se estendem do medo ao ódio, da ganância à mesquinhez, dando a ver o que de mais primitivo existe no comportamento humano. O ritmo sinuoso do filme abre espaço à narrativa e reforça as suas ideias e emoções. Finalmente, é notável o quão meticulosos e verdadeiros se mostram os actores no desempenho dos seus papéis. Luis Zahara, que interpreta um Xan de má catadura, mostra-se particularmente intimidatório e parece sempre pronto para o ataque. Oscilando entre o modo gentil e uma inflexibilidade insuspeitada, Antoine (Denis Ménochet) tem um desempenho irreparável. O confronto entre os dois actores toma a figura de verdadeiras descargas eléctricas. Um filme a não perder.
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