[Clicar na imagem para ver mais fotos]
EXPOSIÇÃO: “Adeus Pátria e Família”
Curadoria | Rita Rato e Joana Alves
Museu do Aljube Resistência e Liberdade
28 Jun 2022 > 29 Jan 2023
De que falamos quando falamos de Estado Novo? Certamente de corporativismo, de antiparlamentarismo, de antipartidarismo, de culto do chefe, de Salazar, obviamente. Também de polícia política, censura, perseguições, prisões, deportações, tortura e morte. Ainda de colonialismo e de uma guerra que se estendeu de 1961 a 1974, deixando atrás de si mais de 50.000 mortos, entre militares, civis e agentes de movimentos independentistas. De uma economia capitalista nas mãos de uns poucos, controlada e regulada por cartéis constituídos e supervisionados pelo Governo. De conservadorismo no apego à moral e aos bons costumes, do crucifixo na sala de aula à regulamentação dos fatos de banho ou à condenação dos beijos na boca. E dos lemas: “Beber vinho é dar o pão a um milhão de portugueses”, “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”, “Orgulhosamente sós” ou “Deus, Pátria, Família”.
Apropriando-se deste último lema, Rita Rato e Joana Alves, as curadoras de “Adeus Pátria e Família” invertem-lhe o sentido, deitando um olhar irónico em relação ao passado e contrapondo com os ganhos reais de uma vida em democracia. Particularmente centrada nas “dinâmicas e tensões entre a repressão e as resistências de diversidade sexual e de género durante a ditadura e após a Revolução”, a mostra apoia-se num vasto conjunto de documentos que mostram o quanto essas tensões condicionaram o quotidiano dos portugueses, levando à perpetuação de “práticas e discursos opressivos e discriminatórios” cujos reflexos podem perceber-se ainda hoje. Páginas de livros, recortes de jornais, excertos de portarias municipais, poemas “malditos”, despachos dos serviços da censura, fotografias, cartazes e muito mais, são um convite “à reflexão sobre as construções, desconstruções e reconstruções do conceito de género e o caminho ainda, e sempre, necessário para construir uma sociedade democrática.”
Da “lição de Salazar” à “prática de vícios contra a natureza”, dos “poetas de Sodoma” ao “julgo de proibir , sem a menor dúvida”, o visitante cruza o seu olhar com o de António Botto e Judith Teixeira, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e as “Novas Cartas Portuguesas”, Virgínia Quaresma, Valentim de Barros, Julio Fogaça, Ary dos Santos, Al Berto, e não pode deixar de sentir admiração pelo caminho feito, curvando-se perante aqueles que lutaram e continuam a lutar pela dignidade da pessoa humana. Um poema de Maíra Freitas lembra-nos que há, certamente, muito caminho ainda a percorrer. A nossa atenção vira-se, então, para as figuras de António Variações ou Gisberta Salce, para os dados do observatório da discriminação contra pessoas LGBTI+, para os indicadores acerca das leis de orientação sexual no mundo ou para aqueles que, através da arte, procuram responder à questão: “O Que Vem Depois da Esperança?”. Uma exposição imperdível, para ver até ao próximo dia 29.
Sem comentários:
Enviar um comentário