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domingo, 5 de junho de 2022

VISITA GUIADA: "Vareira Cheia de Graça"


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VISITA GUIADA: “Vareira Cheia de Graça”,
Visita guiada e encenada à Antiga Vila Histórica de Ovar
Autoria, encenação e interpretação | Leandro Ribeiro
120 Minutos | Maiores de 12 anos
04 Jun 2022 | sab | 18:00


A Vila de Ovar é a grande protagonista desta história em forma de Visita Guiada, ao encontro das suas origens e tradições, das suas paisagens e património, da sua cultura e das suas gentes, do seu modo único de estar e sentir. Concebida, encenada e interpretada por Leandro Ribeiro, esta é uma história que convida a viajar no tempo, recuando a suecos e alanos, fenícios, gregos, cartagineses e romanos, para neles encontrar a origem de tanta beleza e tão enorme graça da mulher vareira. É através dela que descobrimos a origem do topónimo Ovar, saímos com as companhas para a faina da Arte Grande, ouvimos apregoar a sardinha viva e o carapau fresquinho, mergulhamos na massa do Pão de Ló, cantamos os Reis e jogamos ao Carnaval, vemos o homem partir para as fragatas do Tejo e a mulher a segui-lo, passando de vareira a varina. E, como Cesário, entoamos: “Vêm sacudindo as ancas opulentas! / Seus troncos varonis recordam-me pilastras; / E algumas, à cabeça, embalam nas canastras / Os filhos que depois naufragam nas tormentas”.

Com início na Escola de Artes e Ofícios e término, duas horas depois, na Praça da República, “Vareira Cheia de Graça” leva o visitante ao encontro de Ovar naquilo que tem de mais íntimo, o seu património e as histórias a ele ligadas. Fontes e capelas, mercados e chafarizes, edifícios de ontem e de hoje, mostram-se ao visitante naquilo que foram e são, vestidos dos sons e das cores de outros tempos. Junto à Fonte de Júlio Dinis, é nosso o olhar do escritor sobre as lavadeiras no Rio do Peixoto. Subindo o Cáster pela margem esquerda, temos notícias do crime horrendo que vitimou Ana Rosa, uma criança de oito anos, junto à Ponte da Senhora da Graça. Na escadaria da Capela do Calvário percebemos a perfídia de “enterrar o senhor na areia”. No Largo dos Combatentes da Grande Guerra, com a ajuda de Roque Gameiro, cumprimentamos o médico João José Silveira, que Júlio Dinis imortalizou sob o nome de João Semana. Vemos como a Fonte dos Combatentes pode ser um “espaço de contemplação” e apreciamos o trabalho do Arquitecto Januário Godinho no Mercado Municipal, inspirado em nomes como Oscar Niemeyer, Le Courbosier e Lúcio Costa. No Tribunal de Ovar cruzamo-nos com o 1º Juiz de Direito da comarca, José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, pai do escritor Eça de Queirós. Entre a Capela da Senhora da Graça e o Chafariz do Neptuno, assistimos à passagem do Carnaval Sujo e ao choque entre o sagrado e o profano. Admiramos gelosias e calões na Casa da Quinta de S. Thomé, vemos a Benção do Gado em torno da Capela de Santo António e assistimos à chegada da Rainha D. Maria II, que pernoitou nos Paços do Concelho em 26 de Maio de 1852. Por fim, desfilamos com a Rainha da Cadeia, vestido vermelho e coroa de flores silvestres na cabeça, arquétipo da mulher vareira. Vareira e cheia de graça.

Aos locais e figuras elencadas, poderíamos acrescentar as Capelas dos Passos e Santa Camarão, a Viela dos Cavalos e noites mágicas, águas de qualidade não controlada e relíquias da Escola Coimbrã, Afonso José Martins e o deus Mercúrio, engraxadores de sapatos e iogurtes gregos, o Museu de Ovar e as estradas do sal. Ainda assim, muito ficaria por contar. “Vareira Cheia de Graça” assenta num enorme exercício de pesquisa e recolha de elementos identitários, sabiamente conjugados para nos darem a ver as influências que presidiram ao nascimento da urbe e ao seu desenvolvimento, até aos nossos dias. Como um todo que se desdobra nas suas múltiplas partes, Ovar é visto pela óptica da sua identidade e dos seus valores e, na justa medida, valorizado naquilo que foi e é. Notável comunicador, Leandro Ribeiro desenrola o guião com saber e emoção, acrescentando-lhe a interacção com os participantes, uma generosa dose de humor e alguma irreverência. Aflorada a espaços, a crítica social vai ajudando a pôr alguns pontos nos ii e a mostrar as incongruências e contradições que se abrigam nas diferenças entre uma grande vila e uma pequena cidade. Momento de conhecimento e partilha por excelência, “Vareira Cheia de Graça” é uma tocante prova de amor à Vila de Ovar. Imperdível!

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