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sexta-feira, 24 de junho de 2022

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Saudade / Portugal"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Saudade / Portugal”,
de Neal Slavin
Galeria WOW
17 Mar > 31 Out 2022


Aos 27 anos, Neal Slavin chegou a Portugal. Vinha com uma bolsa Fulbright do Institute of International Education e o campo de trabalho era a Arqueologia, mas acabou por apaixonar-se pelo País e pelas pessoas. Estávamos em 1968, a França era tomada por um Maio de todas as promessas e no Vietname a guerra estava no auge. Por cá, reinava um silêncio ensurdecedor sob o regime fascista de um Oliveira Salazar à beira de cair de uma cadeira. Fotografar os cidadãos era contra a vontade do governo - nalguns casos era mesmo ilegal - mas fazê-lo foi sentido como uma necessidade. Esta proximidade e apego a uma realidade vivida na primeira pessoa levou a que Neal Slavin percebesse o quanto o ditador era odiado, por gente de todos os espectros e sensibilidades políticas, da esquerda à direita, tanto por ricos como por pobres. Na verdade, a única classe que não o odiava era a classe média porque tinha desaparecido.

Em 2016, Neal Slavin regressou a Portugal. Revisitou os locais que tinha percorrido há quase meio século e quis perceber as diferenças entre passado e presente, com uma revolução de permeio. O resultado deste “estudo comparativo” pode ser apreciado em Vila Nova de Gaia, na magnífica galeria de exposições do WOW - World of Wine, ao longo de uma centena de fotografias criteriosamente seleccionadas. Numa espécie de antecâmara, o visitante é convidado a percorrer a cronologia de um país e das transformações sofridas nos últimos cinquenta anos. Paralelamente, é possível escutar distintas figuras como o Professor Manuel Sobrinho Simões ou o Doutor Francisco Pinto Balsemão, discorrendo sobre o assunto. Mas é quando fixamos o olhar nas imagens - as de 1968 a preto e branco, as mais recentes a cores - que verdadeiramente compreendemos o sentido da exposição, aquilo que Neal Slavin tão claramente percebeu e cuja verdade parece insofismável: Evoluímos, sim, modernizámo-nos, conservamos um forte orgulho naquilo que fomos e somos, mas a alma permanece a mesma, cinzenta e triste, carregada de saudade e fado.

Neal Slavin exemplifica muito bem o quanto o futuro se abre de igual modo no olhar e no sorriso de duas crianças a uma mesma janela do Portugal dos Pequenitos, separadas entre si por meio século. “Matilde a atar o cabelo” pode ser a mesma “Mulher jovem em taberna” de um tempo antes. As “Noivas de Santo António”, cheias de promessas no olhar, são seguramente as mesmas. Como o são as velas que, em Fátima, ardem ininterruptamente, os passos que se apressam à saída de Santa Apolónia, a humidade que se agarra aos vidros ou as rugas no rosto de uma “Mulher de Aldeia” ou de uma “Mulher da Nazaré”. Ao convidar o visitante a deslindar as “7 Diferenças” deste seu “jogo”, o fotógrafo facilita-lhe a vida. Fosse a série de imagens mais recentes também ela a preto e branco e o desafio seria ainda mais intenso, a surpresa maior. Resta a nossa admiração pela qualidade das reportagens, o fascínio perante a beleza de muitas das fotografias e essa sensação única de ser muito mais o que nos une que aquilo que nos separa.

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