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quinta-feira, 19 de maio de 2022

TEATRO: "A Caminhada dos Elefantes"



TEATRO: “A Caminhada dos Elefantes”
Texto | Inês Barahona
Encenação e interpretação | Miguel Fragata
Cenografia e figurinos | Maria João Castelo
Música | Fernando Mota
Produção | Formiga Atómica
50 Minutos | Maiores de 6
Centro de Arte de Ovar
13 Mai 2022 | sex | 14:30


Esta caminhada dos elefantes tem como ponto de partida uma história real. Na reserva animal de Thula Thula, no Leste da África do Sul, Lawrence Anthony aceita receber uma tumultuosa manada de elefantes a fim de evitar que venham a ser abatidos. Durante duas semanas Anthony viveu junto da manada e todos os dias falou com os elefantes, procurando ganhar a sua confiança. Aos poucos, os animais foram-se apaziguando e aceitando a presença de Anthony, acabando por ficar na reserva. Em 02 de Março de 2012, Lawrence Anthony estava em Durban a apresentar um dos seus livros quando teve um enfarte e morreu. Nesse momento, a duzentos quilómetros dali, a manada iniciou uma longa caminhada, atravessando a reserva e concentrando-se junto à casa de Lawrence. Ali permaneceu durante dois dias, ensaiando uma série de rituais antes de regressar ao coração de Thula Thula.

Tocante a todos os títulos, esta história serve de pretexto a Inês Barahona e Miguel Fragata para falarem sobre a morte, o último grande tabu dos nossos tempos, um assunto particularmente sensível quando o público alvo são as crianças. Mas foi precisamente esse o desafio que estas duas “formigas atómicas” se colocaram, trabalhando o texto com base num conjunto de encontros e oficinas que envolveram cerca de duas centenas de crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 11 anos. Os encontros foram, em resumo, ocasiões soberanas para descobrirem e confrontarem as ideias que as crianças têm sobre a morte e a forma de lidar com ela. “A Caminhada dos Elefantes” pretende ser uma caminhada conjunta para um crescimento pessoal, onde através da partilha se vivem e revisitam experiências emocionais de perda, se constroem ou reinventam novos pensamentos, conceitos, significados e ferramentas para conseguir lidar com esses sentimentos.”

Levado à cena pela primeira vez em Novembro de 2013, no Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Moita, o espectáculo regressou a Ovar com várias sessões para escolas e público em geral. Ao longo de 50 minutos, Miguel Fragata faz uso da sua extraordinária capacidade de representação para chegar perto do público e, com base numa série de pequenos adereços, chamar a sua atenção para o caminho que todos teremos de fazer, um dia, para nos despedirmos de alguém. Numa linguagem bem humorada, usando um conjunto de artifícios que reforçam a cumplicidade com o público - o jogo em que é proibido nomear a palavra “morte” funciona na perfeição -, o actor põe em destaque o quão presente está a morte nas nossas conversas, ainda que disfarçada de eufemismos ou reprocessada em termos como “quinar”, “bater a bota”, “esticar o pernil” ou “fazer tijolo”. Vencendo o desconforto e a insegurança, Miguel Fragata mostra-nos a importância de tratar com naturalidade um tema absolutamente natural. Uma bela lição de teatro e de vida!

[Foto: Ovar Cultura | https://www.facebook.com/ovarcultura]

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