CINEMA: “Compartimento nº 6”
Realização | Juho Kuosmanen
Argumento | Andris Feldmanis, Juho Kuosmanen, Livia Ulman
Fotografia | Jani-Petteri Passi
Montagem | Jussi Rautaniemi
Interpretação | Yuriy Borisov, Seidi Haarla, Yuliya Aug, Dinara Drukarova, Polina Aug, Tomi Alatalo, Galina Petrova, Lev Azhov, Konstantin Muezenko, Natalya Drozd, Denis Pyanov, Sergey Agafonov, Vitaliy Lisitsyn, Stasya Grankovskaya, Sergey Ribakov
Produção | Emilia Haukka, Jussi Rantamäki
Rússia, Alemanha, Finlândia, Estónia | 2021 | Drama | 107 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
12 Dez 2021 | dom | 18:15
Depois de ter conquistado (ex-aequo com o iraniano “A Hero”) o Grande Prémio do Júri do Festival de Cinema de Cannes, chega até nós “Compartimento nº 6 “, longa-metragem de Juho Kuosmanen e grande aposta da Finlândia no regresso à corrida aos Óscares na categoria de melhor filme estrangeiro, após 20 anos de ausência. Baseado no romance homónimo de Rosa Liksom, o filme conta a história de Laura, uma jovem finlandesa que organiza uma viagem com a sua companheira Irina, mas que no último instante acaba por partir sozinha. De combóio, a caminho do Círculo Polar Ártico, ela irá ter por companheiro de viagem um estranho, Ljoha, com quem divide o compartimento nº 6. Objectivo: Murmansk. Ele vai trabalhar na mina; ela quer ver os milenares petróglifos.
Um combóio, dois estranhos, duas maneiras diferentes de entender a vida. As frias luzes do norte destacam-se na paisagem e encontram o brilho opaco do dia. São os elementos de “Compartimento nº 6”, uma obra que decorre em grande parte num único espaço onde dois mundos aparentemente inconciliáveis são forçados a encontrar-se. Movida por essa ideia de um despertar espiritual, a ideia de ir além do conhecido e do entendimento, de chegar aos confins do mundo e poder começar tudo de novo, é o que move Laura nesta busca de se perder para se encontrar. Ljoha, por seu lado, tem um coração de gelo, mas basicamente são as mesmas dúvidas e questões que o movem.
Envolvente e emocionante, o filme explora a relação entre dois seres completamente opostos, para nos dizer que, afinal, é muito mais aquilo que os une do que o que os separa.
A direcção de Kuosmanen é extraordinariamente metódica e eficaz, na linha dos grandes mestres do cinema nórdico que nos lembram que para fazer um grande filme bastam apenas as figuras humanas e a luz. E, de facto, tudo o resto é complementar no compartimento n.º 6, as personagens enquadradas nessa sua perseverante procura de luz, a luz que atravessa a janela do compartimento, a luz que emana do interior de cada uma delas, a luz no fim do mundo, num lugar onde a própria luz é um bem tão raro. Como Kavafis, Kuosmanen mostra-nos que o que importa é a jornada, não o destino. E é aqui que a imagem simbólica do filme passa a ser a de Laura que, de um espaço estreito e escuro num compartimento de um comboio, olha pela janela e se deixa envolver, por alguns instantes, pela beleza da luz, pelo encanto da viagem, pela poesia do vento, pelo grito da liberdade.
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