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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

CONCERTO: Taraf de Caliu



CONCERTO: Taraf de Caliu
LEFFEST’21 – Lisbon & Sintra Film Festival
Teatro Tivoli BBVA
13 Nov 2021 | sab | 21:00


Depois de mais de três décadas de digressões à volta do mundo, os membros fundadores do Taraf de Haïdouks regressaram aos palcos sob a liderança de Gheorghe Caliu Anghel, o seu icónico violinista, metamorfoseando-se no Taraf de Caliu. Estes músicos de Clejani, pequena cidade do Sul da Roménia, são a última geração de lautari – espécie de etno-jazz moderno com raízes nas tradições da Europa Central, de Leste, do Sul e do Cáucaso –, e a sua qualidade instrumental, repertório cuidado e fortíssima presença em palco fez deles uma das melhores bandas ciganas do mundo. Sob o nome de Taraf de Haïdouks, o grupo foi distinguido em 2002 com o prémio BBC World Music para Melhor Grupo na Europa e Médio Oriente. Passaram agora por Lisboa, sob a nova designação de Taraf de Caliu, para um concerto único no Teatro Tivoli BBVA, integrado no LEFFEST’21 – Lisbon & Sintra Film Festival.

Liderando com intensidade e energia uma banda que levou a sala do Tivoli BBVA ao rubro, Caliu foi um espectáculo dentro do espectáculo. O seu virtuosismo ficou bem patente em temas como “Rustem”, “Lola, Loli”, “Hangul”, “Jelem, Jelem” ou nessa delicada e doce balada “Conducătorului & Cântecul ciobanului”, tocada em parte com recurso a uma corda solta do seu violino. Os restantes músicos não quiseram ficar atrás e oportunidades para porem em evidencia os seus inesgotáveis recursos não faltaram. A solo ou combinando dois ou mais instrumentos, Gheorghe Robert (violino), Ionică Tanase (cimbalom), Marius Manole (acordeão), Iulian Vlad (contrabaixo), Filip Simeonov (clarinete) e Viorica Tudor (voz) foram o complemento perfeito numa noite de folia em torno da música cigana.

Quem presenciou o espectáculo terá ficado rendido à euforia contagiante do Taraf de Caliu. Se nos lembrarmos que por detrás da sua música há toda um povo que defende intransigentemente os seus valores culturais, as suas tradições, a sua língua e os seus costumes, que abriga uma necessidade visceral de liberdade e independência, que foi vítima de tentativa de aniquilamento por altura do III Reich nazi, que continua a ser discriminado e excluído socialmente e que mesmo assim resiste, percebemos o quanto de festa e celebração a sua música encerra. Pode faltar a lenha para aquecer a casa, pode até faltar o pão sobre a mesa, mas haja um instrumento dentro de portas e quem o saiba tocar que a noite em Clejani, como no resto do mundo, nunca será negra.

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