CINEMA: “Timoneiro” / “Kashtiban”
Realização | Majid Esmaili Parsa
Argumento | Majid Esmaili Parsa, Amir Abdi
Fotografia | Mohammad Fakouri
Montagem | Ismael Monsef
Interpretação | Mehdi Mohajeri, Majid Deris, Yousef Khodaparast, Yousef Bakhtiari, Hamide Moghadaszadeh, Fazileh Majlesi, Sharareh Zandi
Produção | Javad Gholizadeh
Irão | 2015 | Comédia, Drama | 87 Minutos | Maiores 12 anos
Cinema Vida
29 Out 2021 | sex | 18:15
O Lago Úrmia, no extremo noroeste do Irão, já foi o segundo maior lago de água salgada do Médio Oriente, a seguir ao mar Cáspio. Desde o início da década de 70 do século passado, porém, sob a acção da natureza e do homem, este verdadeiro paraíso para aves e banhistas foi diminuindo de tamanho. Nos últimos 30 anos, o lago perdeu cerca de 80% da sua superfície e o que dele resta, na grande maioria, são cais que conduzem a lado nenhum, carcaças enferrujadas de barcos semienterrados no lodo e paisagens brancas e estéreis de planícies de sal. É neste cenário distópico que decorre a acção de “Timoneiro”, filme com um forte pendor ecologista e que remete para assuntos como o desenraizamento, a perda de referências e valores, as relações familiares e a amizade.
Partir. Há uma urgência que se impõe desde o início do filme e que nos diz que já nada há a esperar dum sítio que foi casa, refúgio e porto de abrigo ao longo de gerações e que está agora transformado num árido e agreste deserto. Há uma mãe que morre de saudade e um pai que desaparece para parte incerta sem dar explicações. Competirá aos filhos decidir o que fazer dali em diante, sabendo que a grande cidade está a poucas dezenas de quilómetros de distância e o seu apelo mostra-se irresistível. Vendida a casa, resta o barco que Hassan, o mais novo dos irmãos, se recusa a abandonar. O sonho de conseguir voltar a navegar esbarra, desde logo, na água que se esgotou da grande bacia. Mas a esperança é a última coisa a morrer e o pequeno Hassan, com a ajuda de um amigo, irá alimentar o seu sonho até ao fim.
São muitos os motivos de interesse deste filme, a começar por uma fotografia que sabe tirar o melhor partido dos grandes espaços e das cores glaucas que se impõem na vastidão da paisagem. O sentimento de perda que se instala desde o plano inicial toma um tom alucinado face à violência dos diálogos e é reforçado pela nudez da paisagem, sem nada para oferecer senão poeira salgada que fere a pele e queima os olhos. Os enquadramentos e alguns movimentos de câmera são de cortar a respiração. Mas há, sobretudo, a história dessa amizade entre duas crianças que se constrói com base na aceitação das diferenças e na compreensão de que é muito mais o que as une que aquilo que as separa. O final é de uma enorme ternura, mas para poder ser compreendido é necessário ver o filme. “Timoneiro” foi o grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de Avanca 2017 e pode ser visto no Cinema Vida até à próxima quarta-feira.
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