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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

EXPOSIÇÃO: "Obras Gráficas de Francis Bacon"


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EXPOSIÇÃO: “Obras Gráficas de Francis Bacon”
Galeria WOW, Vila Nova de Gaia
29 Abr > 26 Set 2021


“A minha pintura não é violenta; a vida é que é violenta. Vivenciei a violência física, inclusive tive os meus dentes fracturados. Sexualidade, emoções humanas, vida quotidiana, humilhação pessoal – a violência faz parte da natureza humana… Nascemos, fazemos sexo, morremos. O que poderá ser mais violento do que isto?  É através de um único grito que nascemos para este mundo. O sexo é um acto muito violento, principalmente entre homens e nem vamos falar da morte… A minha pintura é uma representação da vida, e, acima de tudo, da minha própria vida, que tem sido muito difícil. Então, talvez a minha pintura seja muito violenta, mas isto é algo natural para mim.”
Francis Bacon, 1991

Tendo como ponto de partida as obras gráficas de Francis Bacon cedidas pela Fundação Renschdael Art, aqui apresentadas em conjunto, pela primeira vez, em Portugal, a exposição “Obras Gráficas de Francis Bacon” encerra um conjunto de trabalhos produzidos entre 1971 e 1991 e que representam diversas etapas da sua carreira. Embora inicialmente relutante na reprodução das suas obras gráficas, Francis Bacon rendeu-se à constante pressão de museus e pedidos de colecionadores particulares e, em 1971, finalmente concordou com a publicação dos seus primeiros trabalhos. Nesta exposição é possível apreciar vinte e três obras que vão desde litografias, gravuras e águas-tintas feitas por aclamados mestres da impressão, como Mourlot, Maeght e Georges Visat, sob a rigorosa supervisão e parceria de Francis Bacon.

Ao mostrar algumas das obras de arte mais pungentes que demonstram a capacidade imaginária e pictórica de Bacon, a exposição permite ao visitante ter uma visão deveras interessante da carreira pessoal e profissional do artista nos seus diferentes períodos, bem como a sua relação com alguns temas como a religião, a literatura, a música, o retrato e a morte. São disso exemplo o fabuloso “Triptych Inspired by the Oresteia os Aeschylus” [“Tríptico Inspirado pela Oresteia de Ésquilo”], onde reinterpreta a sua história em relação com a própria vida, o enigmático “Study from Portrait of Pope Innocent X” [“Estudo para Retrato do Papa Inocêncio X”] que exprime a busca incessante por um equilíbrio entre as convicções psicológicas e a identidade física da carne e da pintura, ou “Three Studies of a Male Back” [“Três Estudos de Umas Costas Masculinas”], o recorrente jogo de espelhos e seus reflexos a evidenciar a vulnerabilidade e a mortalidade da figura humana.

Enquanto ateu e através das suas obras, Bacon procurou expressar o que sentia em viver num mundo sem Deus e sem vida após a morte. Ao colocar o abandono emocional e a compulsão física em conflito com o desespero e a irracionalidade, ele reduziu o Homem a um simples animal. Face ao desafio que a fotografia representava para as suas obras, Bacon desenvolveu um realismo ímpar que realçou ainda mais a realidade da existência do que a própria representação do real que a fotografia conseguia registar. Fiel às suas palavras, Francis Bacon nunca parou de pintar até ao dia da sua morte, em 1992. De um verdade comovente e de uma beleza tocante, “Obras Gráficas de Francis Bacon” vem inaugurar, de maneira auspiciosa, um espaço apostado na divulgação das interculturalidades e expressões artísticas contemporâneas. No centro histórico de Vila Nova de Gaia, para ver até ao próximo dia 26.

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