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quarta-feira, 14 de julho de 2021

TEATRO: "O Duelo"



TEATRO: “O Duelo”
Texto | Heinrich Von Kleist
Tradução e dramaturgia | Maria Filomena Molder
Direcção cénica | Carlos Pimenta
Cenografia | Carlos Pimenta e João Pedro Fonseca
Figurinos | Bernardo Monteiro
Interpretação | Miguel Loureiro
Produção | Teatro Nacional de São João, Centro Cultural de Belém
40 Minutos | Maiores de 14 Anos
Teatro Carlos Alberto
08 Jul 2021 | qui | 19:00


Do que li: “Um dos autores prediletos de Kafka, mas renegado por Goethe e Hegel, que repudiavam o seu “teatro invisível”, Kleist criou uma obra em desajuste com a sua época e as suas leis. História romântica de recorte policial passada no fim do século XIV, em “O Duelo” a honra e a sinceridade do triângulo de protagonistas parece decidir-se no confronto que lhe dá título, onde será o juízo de Deus a conceder o triunfo à espada que defenda a verdade. Mas nada é o que parece, nem Deus é tão preciso como seria de esperar. Peça sobre o cálculo e o acaso, o fracasso e o sucesso, é regida pela vertigem de uma justiça poética e conduzida pela voz e corpo do ator Miguel Loureiro.”

Do que vivi: Vivi a presença de Miguel Loureiro em palco num papel de múltiplos contornos, dentro e fora da acção, interpretando as várias personagens, assumindo o papel de narrador e acompanhando o desenrolar da peça como se de um espectador se tratasse (um paradoxo só na aparência, excelentemente resolvido graças ao engenho do encenador Carlos Pimenta e à enorme capacidade interpretativa de Miguel Loureiro). Vivi a versatilidade de um dispositivo cénico com tanto de despojamento como de eficácia, os fumos como “brumas da memória” a dizer-nos que nem tudo o que parece é, para além de uma excelente combinação entre o trabalho de vídeo de João Pedro Fonseca e o desenho de luz de Rui Monteiro. E vivi os tempos, as pausas, a respiração, o gesto, a pose, as marcações, a entoação, a palavra, num primoroso exercício de Teatro enquanto forma de Arte, apenas ao alcance dos grandes actores.

Do que senti (e é precisamente aqui que a porca torce o rabo): Sei que senti, no fim, uma enorme frustração pela forma abrupta como a peça termina, pouco mais de meia hora depois de ter começado. Senti – e ainda sinto – que não foi capaz de captar as mensagens subliminares que a peça porventura encerra, ficando-me pelo óbvio contemplado na sinopse. Mas também senti que há, nesta peça, o propósito de escrutinar os limites do teatro, de mostrar que não existe teatro em sentido absoluto, mas vários teatros que se misturam e confundem ou que, no essencial, tudo é teatro. Senti, enfim, uma vontade enorme de conhecer a obra na qual Maria Filomena Molder se baseou para assinar a dramaturgia desta peça, certo que nela encontrarei, se não todas, pelo menos um bom número de respostas a questões que persistem em inquietar-me.

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