EXPOSIÇÃO: “As Cantinas Escolares no Estado Novo”
Museu Escolar Oliveira Lopes
02 Out 2020 > 20 Fev 2021
“Enquanto a Escola, através da leitura e da escrita, abria de par em par as portas do conhecimento, a cantina, por intermédio de uma sopa copiosa, silenciava os estômagos ruidosos e, com isso, facilitava as aprendizagens das crianças mais necessitadas. Se havia matéria que não dava azo a discussão era o contributo da cantina para o sucesso da Escola. Não era possível conceber que “gente de palmo e meio” pudesse aprender com “a barriga a dar horas”. (...)”
A exposição “As Cantinas Escolares no Estado Novo” não pode deixar de ser entendida como uma verdadeira aula de História. Assente em documentos que são parte integrante do espólio do Museu Escolar Oliveira Lopes, o “roteiro” da visita começa por lembrar o nascimento das Escolas Oliveira Lopes, fruto da generosidade dos irmãos José de Oliveira Lopes e Manuel José de Oliveira Lopes, verdadeiro instrumento de combate à elevada taxa de analfabetismo que grassava no país no dealbar da República. Decorrerá quase meio século até que a Cantina Escolar de Santa Maria de Válega entre em funcionamento, numa altura em que a Lei de Obrigatoriedade do Ensino Primário se mostrava ineficaz, favorecendo a postura obscurantista de um regime salazarista apenas preocupado com a existência de uma mão de obra numerosa, barata e pouco reivindicativa.
A criação da cantina foi legalizada pelo Decreto-Lei nº 39.219 e inaugurada a 16 de Setembro de 1956, tornando-se numa peça fundamental para manter desperto o sonho dos Irmãos Oliveira Lopes: Tornar as crianças capazes de um futuro promissor.
Do projecto de construção da cantina às actas das reuniões ordinárias da Câmara Municipal de Ovar ou aos recortes de jornais da época, é todo um manancial de informação que não deixa nada de lado. A doutrina do Estado Novo surge em todo o seu esplendor num texto do livro da terceira classe intitulado “A cantina escolar” – “(...) A sopa cheirava que era um regalo; e todos nós estávamos satisfeitos, ao ver os pobrezinhos matar a fome (...)”. Não faltam sequer as facturas com o timbre dos Produtos Irmãos Unidos, da Peralta Filho, da Farmácia Resende ou da Papelândia. Entre as alegrias da Consoada – para muitas das crianças mais necessitadas a única maneira de viver as alegrias do Natal – e uma boa colherada de Óleo de Fígado de Bacalhau “Dori”, ao visitante competirá fazer as contas do “deve e haver” duma obra e do seu tempo. A exposição encerra em 20 de Fevereiro de 2021. A não perder!
Sem comentários:
Enviar um comentário