CINEMA: “Diapasão” / “Diapason”
Realização | Hamed Tehrani
Argumento | Hossein Tehrani
Fotografia | Mehdi Ilbeygi
Montagem | Sara Ahani
Interpretação | Zhaleh Sameti, Behnoosh Bakhtiari, Alireza Ostadi, Mehdi Hosseinina, Hossein Tehrani, Iliya Keyvan, Masoumeh Rahmani, Babak Noori, Mehrnoush Hajikhani, Shadi Ganji, Alireza Savehdoroudi, Mehran Atashzay
Produção | Alireza Shojanoori
Irão | 2019 | Drama | 90 Minutos | Maiores de 12
Cinema Vida
27 Dez 2020 | dom | 09:15
As desigualdades na sociedade iraniana têm inspirado um conjunto de filmes notáveis, sendo “Separação”, de Asghar Farhadi (2011), um dos mais marcantes exemplos. Este filme de Hamed Tehrani afina pelo mesmo diapasão, partindo de uma tragédia pessoal para destacar um país em que os homens recebem direitos legais e autoridade moral de uma forma que é sistematicamente negada às mulheres. Lançados os dados, o drama humano instala-se e a mensagem ganha eco na exploração da dúvida, da culpa, do ódio e do perdão.
Tehrani faz questão de sublinhar o vínculo afetuoso compartilhado por uma mãe protetora e pela filha a deixar a adolescência para melhor desenvolver a sua ideia. Exceptuando os momentos passados no trabalho ou na escola, elas estão sempre juntas. Mas a mãe abre mão do acordo no dia em que a filha celebra o seu 17º aniversário, um dia que ficará marcado pela tragédia. A partir deste momento, o desejo de vingança passa a ocupar por inteiro a mente da mãe, a batalha legal que se segue pondo a nu um regime que persiste em fazer da mulher o elo mais fraco.
Com uma narrativa simples, focada nos dilemas morais e nas emoções humanas, Tehrani centra a acção em salas de aula, tribunais, escritórios e uma casa que escurece de tristeza. A presença de Zhaleh Sameti, no papel de mãe, domina o filme em toda a sua dimensão; mas também testemunhamos as consequências do drama naqueles que gravitam à sua volta, das amigas da vítima que deixam de conseguir concentrar-se nos estudos, à professora que sugere um compromisso ou à família do culpado que teme perder o seu ganha-pão caso a sentença vá por diante. Sobre todos recai o peso dos acontecimentos.
Nesta sua primeira longa-metragem, Tehrani mostra-se suficientemente corajoso para ir além do espectador, estendendo a sua mensagem a sectores importantes da sociedade iraniana. “Sempre haverá alguém que impede os outros de viverem de maneira adequada”, diz, pela voz desta mãe destroçada. Em simultâneo, sabe criar uma enorme tensão sobre a forma como os eventos serão resolvidos, ficando claro que a postura inflexível da mãe não lhe devolve qualquer sensação de apaziguamento. A solução existe, mas é significativo que seja necessário o altruísmo de uma mulher para pôr cobro aos impulsos de um homem.
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