CINEMA: “Aznavour Por Charles”
Realização | Marc di Domenico, Charles Aznavour
Argumento | Marc di Domenico, Charles Aznavour, Antoine Barraud
Fotografia | Charles Aznavour
Montagem | Didier d’Abreu, Catherine Libert, Fred Piet
Interpretação | Romain Duris, Marie Montoya, Michel Klochendler, Charles Aznavour, Maurice Biraud, Edith Piaf, Lino Ventura
Produção | Charles de Meaux
França | 2019 | Documentário, Biografia | 75 Minutos | Maiores de 12
Cinema Vida
08 Dez 2020 | ter | 11:00
Aceitemos sem reservas as palavras que Marc di Domenico faz questão de enunciar logo no início do filme. Imaginemos que, como nos é dito, após o conhecimento casual com Charles Aznavour, este lhe confia toda a sua colecção de filmagens, desde finais dos anos 40, propondo-lhe que faça com elas o que muito bem entender. Acreditemos também que, de par com as películas, Aznavour lhe entrega os seus escritos, reflexões, frases, diários. “Entrego-te a minha vida através do meu olhar”, ter-lhe-á dito, e “agora faz daí um filme sem manipular o material”. É este o ponto de partida de “Aznavour Por Charles”, uma obra que sabe contornar o consabido documentário biográfico para adentrar-se no acto da criação, os tijolos da ficção unidos pela argamassa da realidade.
É mérito do realizador lograr envolver-nos no processo de evolução artística e sentimental do cantor sem que, em algum momento, nos sintamos constrangidos a tirar conclusões. Dificilmente poderemos suspeitar que a vontade de Aznavour ao fazer estas filmagens fosse a de deixar um legado para a posteridade que permitisse conhecer melhor o seu lado íntimo. Se assim fosse, o ego da personagem seria extraordinariamente maior do que aquele que se lhe reconhece. Aquilo que aqui temos é a visão de Charles Aznavour do mundo que o rodeia, mas também a prova de como um estilo pode evoluir do afã documental do turista convertido em antropólogo nas suas viagens pelo mundo, ao emprego que dá à camara graças à aprendizagem resultante dos seus trabalhos de actor, para finalizar no experimentalismo matizado pela influência da Nouvelle Vague e do seu amigo François Truffaut.
Com as imagens órfãs de som, Marc di Domenico é exímio em conferir-lhes o tom melancólico, poético ou sentimental do cantor, sem nunca perder de vista aquilo que será, porventura, o mundo de Aznavour, a sua própria visão sobre os locais que visitou, as canções que criou, as pessoas com as quais se relacionou, as mulheres que amou e a sua Arménia nunca esquecida, referente de um paraíso perdido que importou reencontrar. Marcado pela nostalgia, “Aznavour Por Charles” é um convite a que desfrutemos de um olhar que se estende no tempo por cerca de meio século, um olhar sempre cúmplice, sempre sonhador, que nunca abandona esse espírito de aparência boémia mas que nos transmite uma ideia de felicidade e de apego à vida deveras tocante.
Sem comentários:
Enviar um comentário