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terça-feira, 22 de setembro de 2020

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "Calendário da Sé de Miranda" | Peeter Balten


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Calendário da Sé de Miranda”,
de Peeter Balten
Museu de Lamego
29 Ago > 31 Out 2020


Até ao próximo dia 31 de Outubro, encontra-se patente ao público no Museu de Lamego a exposição «Calendário da Sé de Miranda», de Peeter Balten, um extraordinário conjunto de 12 pequenos quadros pintados sobre madeira de carvalho, representando os Doze Meses do Ano. Depois de ter sido apresentado no Museu da Terra de Miranda e no Museu Nacional de Arte Antiga, com uma passagem pela Galiza, a mostra chega agora a Lamego, oferecendo a oportunidade de por em diálogo a exposição de pintura flamenga com as coleções que o Museu possui com a mesma origem e de reflexão sobre as relações artísticas entre Portugal e a Flandres no século XVI.

Reveladas pelo investigador Mário Moutinho, em 2005, as pinturas decoravam a sacristia da concatedral de Miranda do Douro e foram estudadas mais recentemente, a convite do Museu da Terra de Miranda, por Vítor Serrão, que lhes pôde atribuir uma autoria provável e reavaliar o seu sentido geral. A partir da comparação feita com uma série quase idêntica conservada em Paris, numa colecção particular, foi possível fazer a atribuição do conjunto de quadrinhos de Miranda ao pintor Peeter Balten (c. 1527 – 1584), activo em Antuérpia. Mais difícil será perceber as circunstâncias exactas da sua integração no acervo da igreja, sendo a hipótese mais provável a de uma aquisição feita pelo bispo D. Jerónimo de Meneses, prelado culto e erudito, responsável por uma campanha de obras na Sé e pela encomenda de várias outras pinturas.

São escassas as obras subsistentes de Balten e não muitos os dados biográficos conhecidos, mas sabemos que chegou a trabalhar com Pieter Brueghel, o Velho (c. 1525 – 1569) e que, como ele, cultivou a pintura de género e o emergente gosto pela paisagem. Festas e festivais camponeses, quermesses, mascaradas, cenas de tabernas e de feiras, com o seu cortejo de personagens rústicas ou desbragadas – por vezes denunciadas, pelos seus excessos, em escritos de teólogos e memorialistas protestantes – tornaram-se recorrentes na obra do pintor, que foi também gravador, de originais seus e de outros pintores contemporâneos.

Os doze quadros do calendário de Balten mostram a atenção que o artista presta à vida quotidiana nos campos, ritmada pelos ciclos produtivos. As actividades agrícolas, pastoris e venatórias próprias de cada mês são pretexto para a enunciação das convenções da pintura de paisagem e da cena de género, no tratamento dos cenários, na representação de animais, na descrição dos trajes de festa ou de trabalho, com as suas alfaias características. Sob a aparente singeleza destes quadros, Peeter Balten constrói uma complexa rede de alusões simbólicas e de alegoria, nas quais se cruzam, em múltiplos níveis de significação, memórias da mitologia antiga e pré-cristã (os Ciclos das Estações e os cultos da fertilidade), da iconografia dos Livros de Horas, das festividades canónicas ou populares, além do calendário zodiacal, convocado como demonstração da harmonia entre a organização astral e a vida terrena. 

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