EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Jogo de espelhos - a cidade fragmentada e a fotografia fragmento através da C.N.F.”
Vários autores
Centro Português de Fotografia
25 Jun > 13 Set 2020
Quem, por estes dias, dirigir os seus passos para o Centro Português de Fotografia, encontrará na exposição “Jogo de espelhos – a cidade fragmentada e a fotografia fragmento através da C.N.F.” muitos de sobra para se regozijar. Desde logo porque não é todos os dias que, num mesmo espaço, se expõem trabalhos de fotógrafos da dimensão de Henri Cartier-Bresson, Josef Koudelka, Sebastião Salgado, Robert Frank, Walker Evans, Neal Slavim, Bernard Plossu, Alfred Stieglitz, David Hockney, Gabriele Basilico ou dos portugueses Gérard Castello-Lopes, Paulo Nozolino, Augusto Alves da Silva, Paulo Catrica, André Principe ou Carlos Calvet. Mas também porque nestas imagens se percebe uma fortíssima unidade em torno da fotografia enquanto veículo de fragmentação, quer pela criação de narrativas originais ou complementares, quer pelo convite à descoberta de novos espaços.
No sentido de mostrar como desde sempre as imagens da cidade e dos lugares são ficcionadas selecionou-se na Coleção Nacional de Fotografia alguns dos mais famosos representantes da ideia de cidade. Encontramo-nos, então, perante imagens cortadas da realidade, tão evidente no simbolismo de Stieglitz como no de Slavin, no pictorialismo de Carlos Calvet ou de David Hockney ou nos trabalhos de Cartier-Bresson, numa linha “humanista” particularmente significativa no pós-guerra e que se prolonga até aos nossos dias, com paragem obrigatória nas imagens de sebastião Salgado ou Guy Le Querrec por altura da Revolução dos Cravos.
Com Robert Frank opera-se um corte. O suíço que fotografa em Londres e segue para os Estados Unidos para produzir os “Americanos” que os Estados Unidos não querem publicar oferece-nos não apenas um novo olhar, mas sobretudo uma nova teoria sobre a fotografia: o rápido e brutal disparo da câmara tem a ver com a crueza do real, a sua dimensão desorganizada e enigmática. O uso do fora de campo, o corte desabrido do plano, repetem a indeterminação dos espaços urbanos, o descentramento da realidade social e recusam equivalências artísticas. A cidade, como a realidade, é um local de tensão e conflito. Com Frank, a imagem fotográfica torna-se enigmática e impossível de descodificar de modo unânime, pois nada diz.
Os fotógrafos procuram, então, os enigmas urbanos. Plossu reflete sempre a sua cidade, que lembra como pacífica, mas com frechas de enigma. Gabriele Basilico evoca, nos armazéns à beira rio, as cidades destruídas que fotografou no Líbano. No seu conceptualismo, Paulo Catrica propõe-nos imagens planas e desprovidas de emoção. António Júlio Duarte sabe que o cognitivo está firmemente unido à emotividade e assim as suas imagens urbanas são o contexto das gentes e do insólito na sua instantaneidade e rituais, perdidos e fracionados como a cidade. É, pois, com estes fragmentos que olhamos a cidade e, com eles, recuperamos a totalidade que desejamos, construindo, afinal as duvidosas equivalências que Frank lhe quis retirar.
Vários autores
Centro Português de Fotografia
25 Jun > 13 Set 2020
Quem, por estes dias, dirigir os seus passos para o Centro Português de Fotografia, encontrará na exposição “Jogo de espelhos – a cidade fragmentada e a fotografia fragmento através da C.N.F.” muitos de sobra para se regozijar. Desde logo porque não é todos os dias que, num mesmo espaço, se expõem trabalhos de fotógrafos da dimensão de Henri Cartier-Bresson, Josef Koudelka, Sebastião Salgado, Robert Frank, Walker Evans, Neal Slavim, Bernard Plossu, Alfred Stieglitz, David Hockney, Gabriele Basilico ou dos portugueses Gérard Castello-Lopes, Paulo Nozolino, Augusto Alves da Silva, Paulo Catrica, André Principe ou Carlos Calvet. Mas também porque nestas imagens se percebe uma fortíssima unidade em torno da fotografia enquanto veículo de fragmentação, quer pela criação de narrativas originais ou complementares, quer pelo convite à descoberta de novos espaços.
No sentido de mostrar como desde sempre as imagens da cidade e dos lugares são ficcionadas selecionou-se na Coleção Nacional de Fotografia alguns dos mais famosos representantes da ideia de cidade. Encontramo-nos, então, perante imagens cortadas da realidade, tão evidente no simbolismo de Stieglitz como no de Slavin, no pictorialismo de Carlos Calvet ou de David Hockney ou nos trabalhos de Cartier-Bresson, numa linha “humanista” particularmente significativa no pós-guerra e que se prolonga até aos nossos dias, com paragem obrigatória nas imagens de sebastião Salgado ou Guy Le Querrec por altura da Revolução dos Cravos.
Com Robert Frank opera-se um corte. O suíço que fotografa em Londres e segue para os Estados Unidos para produzir os “Americanos” que os Estados Unidos não querem publicar oferece-nos não apenas um novo olhar, mas sobretudo uma nova teoria sobre a fotografia: o rápido e brutal disparo da câmara tem a ver com a crueza do real, a sua dimensão desorganizada e enigmática. O uso do fora de campo, o corte desabrido do plano, repetem a indeterminação dos espaços urbanos, o descentramento da realidade social e recusam equivalências artísticas. A cidade, como a realidade, é um local de tensão e conflito. Com Frank, a imagem fotográfica torna-se enigmática e impossível de descodificar de modo unânime, pois nada diz.
Os fotógrafos procuram, então, os enigmas urbanos. Plossu reflete sempre a sua cidade, que lembra como pacífica, mas com frechas de enigma. Gabriele Basilico evoca, nos armazéns à beira rio, as cidades destruídas que fotografou no Líbano. No seu conceptualismo, Paulo Catrica propõe-nos imagens planas e desprovidas de emoção. António Júlio Duarte sabe que o cognitivo está firmemente unido à emotividade e assim as suas imagens urbanas são o contexto das gentes e do insólito na sua instantaneidade e rituais, perdidos e fracionados como a cidade. É, pois, com estes fragmentos que olhamos a cidade e, com eles, recuperamos a totalidade que desejamos, construindo, afinal as duvidosas equivalências que Frank lhe quis retirar.
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