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EXPOSIÇÃO: “Homenagem a Henrique Espírito Santo | Cinema Português Anos 70 - da Resistência à Liberdade”
Casa da Cultura de Estarreja
22 Jul > 30 Ago 2020
Poder-se-á conceder, em contexto meramente informal, que meia centena de cartazes, aos quais se juntam umas quantas fotografias, possam receber o nome de “exposição”. Porém, quando uma mostra desta natureza se espalha por um equipamento que se assume como “Casa da Cultura”, já as coisas deixam de ser tão lineares assim e um tremendo desconforto toma conta do visitante. Junte-se a isto a intenção de homenagear alguém, sendo esse alguém Henrique Espírito Santo, e entramos, definitivamente, no campo da falta de respeito. Para com o visitante mas, sobretudo, para com o homenageado.
É precisamente isto que se passa com a “Homenagem a Henrique Espírito Santo”, uma auto-intitulada “exposição” patente na Casa Municipal da Cultura de Estarreja, na qual o “homenageado” não parece ser digno de uma referência que seja, de cariz biográfico ou outro, que releve a sua pessoa e a vasta obra que nos deixou. Nem ele nem os materiais expositivos, atirados para as paredes sem qualquer enquadramento, sem uma nota, uma legenda, uma menção que seja que os ligue entre si, que faça a ponte com o produtor, cineclubista e actor ocasional que foi Henrique Espírito Santo e que, enfim, sirva de guia ao visitante através dos caminhos da História do Cinema português.
Seria presunçoso da minha parte dizer – aqui e agora – quem foi Henrique Espírito Santo. Os interessados encontrarão, com relativa facilidade, as palavras que o definem como “um dos grandes protagonistas da renovação do cinema português dos anos 60 e 70”. Talvez por isto, a minha perplexidade seja ainda maior. Seria tão complicado escrever dois ou três parágrafos sobre este homem que a Cinemateca refere como um “cineclubista de formação, antifascista militante por convicção, director de produção e produtor de profissão e, ‘last but not the least’, formador de toda uma geração de profissionais de cinema na área da produção”?
E que tal os cartazes (belíssimos, diga-se)? Perdia-se alguma coisa em mencionar, por exemplo, “O Recado” (1971) como a primeira obra de José Fonseca e Costa, um filme que, em plena ditadura, desafiou a PIDE e os seus modos de actuação e do qual Henrique Espírito Santo foi o produtor? E as fotos? Retire-se o Manoel de Oliveira e o João César Monteiro (eventualmente o Pedro Costa, o Jorge Silva Melo ou o Alberto Seixas Santos) e o visitante perguntar-se-á quem é aquela gente. Seria tão complicado assim instalar uma televisão e conseguir autorização para passar “Até Amanhã, Henrique!” (2017), documentário biográfico realizado por Miguel Cardoso, traçando o longo percurso de Henrique Espírito Santo no cinema português? E por aqui me fico...
Casa da Cultura de Estarreja
22 Jul > 30 Ago 2020
Poder-se-á conceder, em contexto meramente informal, que meia centena de cartazes, aos quais se juntam umas quantas fotografias, possam receber o nome de “exposição”. Porém, quando uma mostra desta natureza se espalha por um equipamento que se assume como “Casa da Cultura”, já as coisas deixam de ser tão lineares assim e um tremendo desconforto toma conta do visitante. Junte-se a isto a intenção de homenagear alguém, sendo esse alguém Henrique Espírito Santo, e entramos, definitivamente, no campo da falta de respeito. Para com o visitante mas, sobretudo, para com o homenageado.
É precisamente isto que se passa com a “Homenagem a Henrique Espírito Santo”, uma auto-intitulada “exposição” patente na Casa Municipal da Cultura de Estarreja, na qual o “homenageado” não parece ser digno de uma referência que seja, de cariz biográfico ou outro, que releve a sua pessoa e a vasta obra que nos deixou. Nem ele nem os materiais expositivos, atirados para as paredes sem qualquer enquadramento, sem uma nota, uma legenda, uma menção que seja que os ligue entre si, que faça a ponte com o produtor, cineclubista e actor ocasional que foi Henrique Espírito Santo e que, enfim, sirva de guia ao visitante através dos caminhos da História do Cinema português.
Seria presunçoso da minha parte dizer – aqui e agora – quem foi Henrique Espírito Santo. Os interessados encontrarão, com relativa facilidade, as palavras que o definem como “um dos grandes protagonistas da renovação do cinema português dos anos 60 e 70”. Talvez por isto, a minha perplexidade seja ainda maior. Seria tão complicado escrever dois ou três parágrafos sobre este homem que a Cinemateca refere como um “cineclubista de formação, antifascista militante por convicção, director de produção e produtor de profissão e, ‘last but not the least’, formador de toda uma geração de profissionais de cinema na área da produção”?
E que tal os cartazes (belíssimos, diga-se)? Perdia-se alguma coisa em mencionar, por exemplo, “O Recado” (1971) como a primeira obra de José Fonseca e Costa, um filme que, em plena ditadura, desafiou a PIDE e os seus modos de actuação e do qual Henrique Espírito Santo foi o produtor? E as fotos? Retire-se o Manoel de Oliveira e o João César Monteiro (eventualmente o Pedro Costa, o Jorge Silva Melo ou o Alberto Seixas Santos) e o visitante perguntar-se-á quem é aquela gente. Seria tão complicado assim instalar uma televisão e conseguir autorização para passar “Até Amanhã, Henrique!” (2017), documentário biográfico realizado por Miguel Cardoso, traçando o longo percurso de Henrique Espírito Santo no cinema português? E por aqui me fico...
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