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sábado, 9 de maio de 2020

EXPOSIÇÃO: "Rewind | rebobinar para um novo começo"


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EXPOSIÇÃO: “Rewind | rebobinar para um novo começo” 
Vários artistas  
Curadoria | Lara Seixo Rodrigues 
09 Mai > 10 Jun 2020


“Será inegável afirmar que esta inesperada crise pandémica Covid-19, que nos confinou às nossas casas como única forma de combate, simultaneamente nos enclausurou de outras tantas formas. Poderá esta afirmação parecer um exagero, mas desde as primeiras semanas ou até mesmo, desde os primeiros dias, ficámos restringidos não só de movimentos, mas de outras tantas liberdades que tínhamos como consagradas no nosso quotidiano. No entanto, este período não nos limitou de pensamentos, mas os intensificou, moldou, toldou ou clarificou, numa repetição diária e incessável, incontrolável. Indiscutivelmente, este momento digno de um universo onírico ou cinematográfico e, todavia, sem terminus, pode já hoje ser firmado como um espaço e tempo, simultaneamente, invulgar, singular e irrepetível para cada um de nós, como indivíduos e como parte integrante de uma comunidade que se vivencia em velhas, renovadas e novas formas, imagens e sons, a diferentes escalas.” Quem o diz é Lara Seixo Rodrigues, curadora e coordenadora da Mistaker Maker, plataforma de intervenção artística, ao mesmo tempo que se propõem dar-nos a conhecer o conceito e as premissas de um desafio – ou, em boa verdade, de vários desafios – cujo resultado se encontra condensado na exposição colectiva online “Rewind”, inaugurada hoje, Dia da Europa.

“Rewind” é o contributo de nove vozes, nove artistas, unidos a um palco global que visa exaltar o todo que representa e se ambiciona no presente e futuro para a União Europeia: solidariedade, cooperação, coesão, respeito e resiliência. ±MaisMenos±, Aheneah, Catarina Glam, Mantraste, Pantónio, Raquel Belli, Tamara Alves, The Empty Belly e Tiago Galo são o rosto deste desafio colectivo do qual exala uma diversidade plena: de estéticas, de técnicas, de processos, de formações, de vivências, de género, de gerações e de geografias. Uma diversidade que encontra paralelo na própria pluralidade europeia que se celebra com “Rewind”, um termo que nunca deverá ser compreendido como um retrocesso ou regressão, antes nos fala de novos ciclos, de regressos, de recomeços e renascimentos, de velhos e novos tempos que se contam a diferentes velocidades, de toque, de tensões na proximidade, de sombras, de extremos, de inimigos invisíveis que reconciliam, de esperança e de paz. Um termo que nos convida a reflectir sobre as questões, os padrões, as alterações e as esperanças que este tempo e condição individual, europeia e global instigam.

Seguindo os passos da curadora, penetramos nesta sala virtual, ao encontro dos trabalhos expostos e dos seus autores. Grande referência no panorama nacional e internacional da arte urbana desde 2005, ±MaisMenos± apresenta-nos a obra intitulada “Rendição”, que protagoniza uma bandeira da União Europeia totalmente branca, uma espécie de bandeira de rendição, de um pedido de paz. A peça é complementada com um vídeo, no seu conjunto pretendendo vincar a ideia de uma rendição actual da Europa e que, após esta crise actual, esta se enfoque na construção de uma verdadeira e derradeira paz europeia. Uma paz duradoura, sem raptos, sem ilusões. Um “rewind” que traga de volta a ideia inicial do projecto europeu. A artista Aheneah apresenta-nos “Looking Forward”, peça de uma extraordinária beleza que tem por base a lã, os pregos e, ocasionalmente, o acrílico, e de onde emanam os ensinamentos ancestrais sobre o bordado que as suas avós lhe transmitiram e cuja ligações hoje explora, entre meios digitais e analógicos, procurando desconstruir, descontextualizar e, simultaneamente, conectar culturas e gerações.

Catarina Glam é uma artista visual portuguesa que se foca, principalmente, no desenvolvimento de esculturas e instalações públicas. Em “Rewind”, apresenta-nos a peça intitulada “É A Hora”, uma escultura de madeira e contraplacado que nos convida a “repensar, retroceder no tempo, baralhar e voltar a dar”, como ela descreve, apontando este momento como “um momento de mudança, de valores e de palavras, de assumirmos o nosso compromisso com a Humanidade e com o Planeta.” Bruno Reis Santos, reconhecido como Mantraste, é um ilustrador e autor português que nos traz “Eu No Meu Quarto”, que é nada mais do que o seu retrato de isolamento. Aqui, o seu quarto revela-se como um barco sem espaço, à deriva, confiante que um dia, durante ou após este momento que atravessamos, irá chegar a um porto seguro. Natural da Ilha Terceira, nos Açores, Pantónio é o pseudónimo de António Correia. Na sua peça intitulada “Influxo” – e numa abordagem ao tema da União Europeia –, propõe a construção de uma enorme analogia, onde os habituais grupos com intensos movimentos, toques e tensões, dão lugar a cuidadas interacções e movimentos que se inscrevem numa forma circular fechada. Estas são a representação primária das individualidades e liberdades, e secundaria de um retrato da política e do jogo da organização. Esta forma e estes movimentos são depois quebrados, repartidos, e o artista convoca a um refazer, seja este na composição original, centralizada, ou outro, de conjunto, sem foco centralizado.

Apresentando-se como mãe, fotografa e artista visual, Raquel Belli traz-nos “Blossom”, onde confessa que existe algo de reconfortante nos pequenos gestos, hábitos e até tiques, que nos mostram que o mundo continua a girar, que não estamos sozinhos e que há uma natureza que continua a reclamar o seu espaço e a preparar o nosso regresso a uma nova normalidade. Fazendo uso de técnicas de tecelagem e com padrão inspirado na calçada portuguesa, a sua peça resulta do entrelaçar de duas fotografias. Tamara Alves incorporou o conceito “rewind” no próprio processo de construção da sua peça, uma aguarela sobre papel. Após a pintura de um rosto feminino e de garantida a intensidade que caracteriza o seu trabalho, a artista decidiu rasga-la, gerando momentos de conflito e questionamento, mas com a certeza de não poder voltar atrás. No entanto, após este dano, sente que a obra se apresenta como finalizada e completa de significado. A analogia do processo da peça intitulada “We Become Ourselves” ao momento que todos vivemos é clara. Na certeza de que há dois estágios da peça. Na certeza de que há dois momentos, um antes reconhecido e um depois, absolutamente incerto. Na certeza de que este é um momento de mudança, transformação e enriquecimento.

É no período de gestação humano que Tiago Francês, artista português a residir em França e conhecido pelo pseudónimo de The Empty Belly, encontra um paralelismo com o panorama actual causado pela epidemia Covid-19. Esta temática, explorada e revisitada regularmente pelo artista, procura questionar a realidade das nossa sensações interiores e o complexo desenvolvimento humano. À semelhança do período de gravidez, a incerteza e o desconhecido são também presença assídua, abrindo portas a uma reflexão sobre o momento que vivemos em confinamento. Para The Empty Belly, “Freymann – O Homem Livre e Elo de Ligação Entre Presente e Futuro” é um retrato meticuloso e aprofundado sobre a nossa existência e potencialidade. Finalmente, encontramos a peça do ilustrador português Tiago Galo que nos apresenta uma versão tridimensional da estética marcante a que nos habituou na bidimensionalidade das suas ilustrações. A peça intitulada “Baralhar para voltar a dar” remete para um momento de confusão e de procura, de desconstruir para voltar a construir. A figura encontra-se num processo de reflexão interior que a faz retomar a um princípio que obedece à máxima “não sei para onde vou, apenas sei que não vou por aí.”

[Para uma visita mais alargada e pormenorizada sobre os vários trabalhos realizados neste contexto e momento peculiar, vá a www.rewind-expo.com e desfrute!]

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