DOCUMENTÁRIO: “Outro País”
Realização | Sérgio Tréfaut
Argumento | Sérgio Tréfaut
Fotografia | Jon Jost, Rui Poças, João Ribeiro
Música | José Mário Branco, Chico Buarque
Som | António Pedro Figueiredo, Joaquim Pinto
Montagem | Pedro Mateus Duarte, José Nascimento
Produção | Pedro Correia Martins
Portugal | 2000 | Documentário, História | 70 minutos
Cineclube de Arcos de Valdevez
25 Abr 2020 | sab | 22:00
“Para mim era a vitória de um povo que tinha conseguido sair do fascismo e que parecia estar decidido, ou que estava mesmo decidido a assumir o destino do seu país. E acho que não há para mim palavra mais bela do que a palavra Povo.”
Guy LeQuerrec
Antes de começar a trabalhar neste documentário, Sérgio Tréfaut não sabia que alguns dos maiores fotógrafos do mundo tinham estado em Portugal durante o 25 de Abril e tinham captado a essência da descoberta da democracia e do desmantelar do último império colonial europeu. O mesmo aconteceu com dezenas de documentaristas estrangeiros sobre a Revolução. Para o realizador, foi uma surpresa permanente esta descoberta de tão valiosos pedaços da História de Portugal escondidos nas gavetas e nos armários de muitas das maiores agências do mundo. Por outro lado, Tréfaut também descobriu que absolutamente nada desse material tinha sido pedido ou comprado por arquivos portugueses. Daí que “Outro País” seja, em primeiro lugar, um filme sobre o olhar e a memória de vários nomes essenciais numa “cinematografia da revolução”, de Sebastião Salgado a Pea Holmquist, de Glauber Rocha a Jean Gaumy ou aos entretanto desaparecidos Robert Kramer, que morreu pouco depois da conclusão de “Outro País”, ou Thomas Harlan, o realizador de “Torre Bela”.
Programado pelo Cineclube de Arcos de Valdevez para ser exibido em sala no dia 25 de Abril, “Outro País” acabou por passar no pequeno ecrã, em quatro sessões distintas, a partir da página online do Município minhoto. Aqueles que, como eu, tiveram a oportunidade de assistir ao documentário, não terão dado o seu tempo por mal empregue. Sérgio Tréfaut mostra-se exímio na forma como desenvolve a narrativa, começando por desvendar o Portugal do antes do 25 de Abril, passando depois para as imagens do golpe militar que derrubou a mais antiga ditadura ocidental e terminando no pós-25 de Abril, num tempo em que o processo revolucionário perdera todo o seu fôlego e a palavra “fado” voltava a assumir-se no seu sentido mais lato. Ao encontro do olhar daqueles que, vindos do Maio de 68, da loucura do Vietname ou do Chile de Pinochet, desembarcaram em Portugal para registar as emoções da Revolução dos Cravos, “Outro País” pretende dar resposta a duas questões nucleares: O que descobriram em Portugal? Que balanço fizeram anos mais tarde?
“Era uma época maravilhosa. Sobretudo para nós, brasileiros, que vivíamos sob uma ditadura. Quando a gente chegou a Lisboa havia uma volta massiva de portugueses para Portugal. Todos os que tinham fugido do exército, os políticos que estavam refugiados, amigos voltando do mundo inteiro. Para mim, aquilo era a materialização de um sonho. As pessoas estavam livres, querendo viver, querendo saber de tudo que existia no mundo. Sentia-se uma liberdade imensa, na cabeça das pessoas e na linguagem. Creio que uma situação dessas, uma situação de felicidade nacional, foi a única vez que eu vivi.” As palavras são do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, bem como as imagens que as ilustram e que se vão desfiando no ecrã, testemunhos desse “dia inicial inteiro e limpo” que evocamos sempre com emoção. A mesma emoção que Pea Holmquist terá sentido quando, na mesa de montagem, ao idealismo da D. Custódia e à sua paixão pela reforma agrária, juntou a música de José Mário Branco – “foi um sonho lindo que acabou / Houve aqui alguém que se enganou” -, naquele que é um dos momentos mais significativos de “Outro País”. A quem possa interessar, o DVD deste documentário encontra-se à venda em diversas plataformas pelo preço unitário de 5,00 €. Um belo investimento, garantidamente!
Realização | Sérgio Tréfaut
Argumento | Sérgio Tréfaut
Fotografia | Jon Jost, Rui Poças, João Ribeiro
Música | José Mário Branco, Chico Buarque
Som | António Pedro Figueiredo, Joaquim Pinto
Montagem | Pedro Mateus Duarte, José Nascimento
Produção | Pedro Correia Martins
Portugal | 2000 | Documentário, História | 70 minutos
Cineclube de Arcos de Valdevez
25 Abr 2020 | sab | 22:00
“Para mim era a vitória de um povo que tinha conseguido sair do fascismo e que parecia estar decidido, ou que estava mesmo decidido a assumir o destino do seu país. E acho que não há para mim palavra mais bela do que a palavra Povo.”
Guy LeQuerrec
Antes de começar a trabalhar neste documentário, Sérgio Tréfaut não sabia que alguns dos maiores fotógrafos do mundo tinham estado em Portugal durante o 25 de Abril e tinham captado a essência da descoberta da democracia e do desmantelar do último império colonial europeu. O mesmo aconteceu com dezenas de documentaristas estrangeiros sobre a Revolução. Para o realizador, foi uma surpresa permanente esta descoberta de tão valiosos pedaços da História de Portugal escondidos nas gavetas e nos armários de muitas das maiores agências do mundo. Por outro lado, Tréfaut também descobriu que absolutamente nada desse material tinha sido pedido ou comprado por arquivos portugueses. Daí que “Outro País” seja, em primeiro lugar, um filme sobre o olhar e a memória de vários nomes essenciais numa “cinematografia da revolução”, de Sebastião Salgado a Pea Holmquist, de Glauber Rocha a Jean Gaumy ou aos entretanto desaparecidos Robert Kramer, que morreu pouco depois da conclusão de “Outro País”, ou Thomas Harlan, o realizador de “Torre Bela”.
Programado pelo Cineclube de Arcos de Valdevez para ser exibido em sala no dia 25 de Abril, “Outro País” acabou por passar no pequeno ecrã, em quatro sessões distintas, a partir da página online do Município minhoto. Aqueles que, como eu, tiveram a oportunidade de assistir ao documentário, não terão dado o seu tempo por mal empregue. Sérgio Tréfaut mostra-se exímio na forma como desenvolve a narrativa, começando por desvendar o Portugal do antes do 25 de Abril, passando depois para as imagens do golpe militar que derrubou a mais antiga ditadura ocidental e terminando no pós-25 de Abril, num tempo em que o processo revolucionário perdera todo o seu fôlego e a palavra “fado” voltava a assumir-se no seu sentido mais lato. Ao encontro do olhar daqueles que, vindos do Maio de 68, da loucura do Vietname ou do Chile de Pinochet, desembarcaram em Portugal para registar as emoções da Revolução dos Cravos, “Outro País” pretende dar resposta a duas questões nucleares: O que descobriram em Portugal? Que balanço fizeram anos mais tarde?
“Era uma época maravilhosa. Sobretudo para nós, brasileiros, que vivíamos sob uma ditadura. Quando a gente chegou a Lisboa havia uma volta massiva de portugueses para Portugal. Todos os que tinham fugido do exército, os políticos que estavam refugiados, amigos voltando do mundo inteiro. Para mim, aquilo era a materialização de um sonho. As pessoas estavam livres, querendo viver, querendo saber de tudo que existia no mundo. Sentia-se uma liberdade imensa, na cabeça das pessoas e na linguagem. Creio que uma situação dessas, uma situação de felicidade nacional, foi a única vez que eu vivi.” As palavras são do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, bem como as imagens que as ilustram e que se vão desfiando no ecrã, testemunhos desse “dia inicial inteiro e limpo” que evocamos sempre com emoção. A mesma emoção que Pea Holmquist terá sentido quando, na mesa de montagem, ao idealismo da D. Custódia e à sua paixão pela reforma agrária, juntou a música de José Mário Branco – “foi um sonho lindo que acabou / Houve aqui alguém que se enganou” -, naquele que é um dos momentos mais significativos de “Outro País”. A quem possa interessar, o DVD deste documentário encontra-se à venda em diversas plataformas pelo preço unitário de 5,00 €. Um belo investimento, garantidamente!
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