EXPOSIÇÃO: “O Que Escondem os
Livros?”
Museu Escolar Oliveira Lopes31 Jan > 02 Mai 2020
Depois da mostra sobre o político e pedagogo Bernardino Machado, o Museu Escolar Oliveira Lopes decidiu lançar o olhar para dentro de portas, respigando do seu vasto e valioso espólio um conjunto de documentos significativos e que, em si mesmos, procuram dar resposta a uma questão essencial: “O Que Escondem os Livros?”. Das assinaturas de antigos alunos e professores das Escolas Oliveira Lopes às anotações na margem das páginas, das bem humoradas legendas atribuídas a alguns desenhos às flores secas ou às “pratinhas” coloridas dos chocolates que funcionavam como autênticas relíquias, há nesta exposição todo um manancial de revelações que consubstanciam um tempo marcante na vida de quem por aqui passou e que, ao mesmo tempo, interpelam o visitante com base nas suas próprias vivências.
O âmbito desta exposição, porém, é bem mais abrangente, oferecendo um manancial de leituras possíveis, as mais imediatas sendo, incontornavelmente, a contextualização histórica e política daquilo que foi o ensino no período do Estado Novo e o clima social e económico à época, numa pequena aldeia de província. Num tempo em que submissão e obediência eram princípios norteadores de um regime de ensino feito a pensar no lema “Deus, Pátria Família”, os símbolos e a cartilha do Estado surgem espelhados de forma explícita nos manuais escolares, podendo ler-se, por exemplo, que “um bom aluno será mais tarde um bom cidadão”, se adverte que “na escola o chefe é o Mestre” e se lembra que “o Governo de agora, chamado do Estado Novo, tem governado muito bem e só quere (sic) a felicidade de nós todos”.
Os livros de registo de matrícula, os livros de registo de frequência, as certidões e as declarações disponíveis para consulta dão conta do enorme fluxo de alunos que frequentavam as escolas e que permitem entrever famílias numerosas. Alguns destes documentos revelam as diferentes proveniências geográficas dos alunos aqui matriculados, fornecendo pistas do fluxo migratório, nomeadamente de e para a Venezuela, Brasil, Angola e Moçambique. Todavia, é nas cartas trocadas entre encarregados de educação e professores que “lemos” a dureza das condições de vida, passando pelos pedidos para aceder aos “benefício dos livros gratuitos”, para perdoar as faltas a um aluno que teve de ficar a ajudar a mãe muito doente, para não bater a uma criança “no caso que ela não saiba” ou para “não estarem de volta da minha sobrinha”.
Um olhar atento permite perceber,
ainda, que a dureza de um dia de escola podia ser amenizado com umas
palavras à margem do próprio livro. É tocante a manifestação de
amor expressa nas palavras “Este livro muito amado / tesouro do meu
saber / não farei se não (sic) chorar / no dia em que te perder”
e que tem um curioso contraponto na seguinte advertência: “Quem
este livro me tirar / Ao inferno irá parar / Com sua tromba para
Baxo (sic) / E as pernas para o ar”. Vale a pena atentar, ainda,
nas legendas apostas num livro de Ciências Naturais, onde um morcego
com as asas abertas é convidado “a dançar o bira (sic)” com o
carneiro e a um gato, com um rato filado na pata, se pede para “não
deixar escapar esse diabrete”. Mas o melhor mesmo é rumar a Válega
e apreciar cada um dos documentos expostos, daí extraindo as
melhores conclusões. A mostra estará patente até ao próximo
dia 02 de Maio e a visita é gratuita.
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