Páginas

sábado, 29 de fevereiro de 2020

CINEMA: "Os Miseráveis"



CINEMA: “Os Miseráveis” / “Les Misérables” 
Realização | Ladj Ly 
Argumento | Ladj Ly, Giordano Gederlini, Alexis Manenti 
Fotografia | Julien Poupard 
Montagem | Flora Volpelière 
Interpretação | Damien Bonnard, Alexis Manenti, Djebril Zonga, Issa Perica, Al-Hassan Ly, Steve Tientcheu, Almamy Kanouté, Nizar Bem Fatma, Raymond Lopez, Luciano Lopez, Jahison Lopez, Jeanne Balibar, Sana Joachaim, Lucas Omiri, Rocco Lopez 
Produção | Toufik Ayadi, Christophe Barral 
França | 2019 | Crime, Drama, Thriller | 104 Minutos | M/16 
Cinema Dolce Espaço 
29 Fev 2020 | sab | 18:15


“Mes amis, retenez ceci, il n'y a ni mauvaises herbes 
ni mauvais hommes. Il n'y a que de mauvais cultivateurs.

Stéphane acaba de ser incorporado na Brigada de Luta Contra a Delinquência de Montfermeil, um subúrbio do leste parisiense. Ali conhece Chris e Gwada, os seus novos companheiros, dois agentes com uma vasta experiência em lidar com as enormes tensões entre os distintos grupos organizados que lutam pelo controlo do bairro. Este é o ponto de partida de “Os Miseráveis”, simultaneamente o pretexto para o realizador Ladj Ly nos submergir no que de mais marginal existe nos arredores da capital francesa. É através dos olhos de Stéphane que percebemos a situação que se vive nestes bairros e, sobretudo, a forma como a polícia e aqueles que são os verdadeiros donos da rua gerem o seu dia a dia. 

Sem a intensidade asfixiante dos filmes e séries norte-americanas que abordam temas paralelos, este trabalho de Ladj Ly presta-se mais a uma tensão palpitante, com uma mensagem cuidadosamente trabalhada e que, de forma clara, mantém debaixo de olho a obra de Victor Hugo que dá o nome ao filme. O tom inicial, de certa forma ligeiro – abordando os estereótipos relacionados com os bairros marginais, os imigrantes e até com uma certa concepção racista e fascista –, rapidamente se transforma em algo de muito sério, com a denúncia das condições de vida destas pessoas a pontuar a acção e a miséria latente a alimentar eternos conflitos, num ambiente inóspito e profundamente degradado. 

A abertura de “Os Miseráveis” lembra-nos que o ópio do povo é o Futebol e que não há com que nos preocuparmos se a nossa equipa ganha. De “pão e circo” (“panem et circenses”, no original em latim) falavam os romanos e parece ser essa a visão de Ladj Ly sobre a França dos dias de hoje. A diferença é que, nesta parte da Gália, falta pão e sobra circo. Depois de tentarem iludir uma certa França, de procurarem viver sob as suas próprias leis, de lutarem por escapar àquilo que lhes é imposto... todos devem voltar a ser quem são, confrontados com o quão miseráveis podem ser as suas vidas. O final deixa tudo em aberto, lembrando-nos que os problemas persistem. Polícias ou cidadãos, todos acreditam nas suas próprias razões e na sua luta, todos vivem da mesma forma: Infelizes, incrédulos, miseráveis.

Sem comentários:

Enviar um comentário