TEATRO: “As Virges
Suicidas”
Concepção, Direcção e Cenografia | John
RomãoTextos | Mickael de Oliveira
Interpretação | Luísa Cruz, Mariana Tengner Barros, Vera Mantero, Carlos Lebre, Catarina Bertrand Torres, Céline Martins, Inês Azedo, Inês Costa Graça, Maria Costa, Marta Nunes, Margarida Caldeira, Mariana Cardoso, Mafalda Rey
Música | Caterina
Barbieri
Produção | Colectivo 84
75 Minutos | Maiores de 16 anos
Teatro Municipal do Porto - Campo Alegre Auditório
25 Jan 2020 | sab | 19:00
A nova encenação de John Romão, que acaba de passar em duas sessões pelo auditório do Teatro do Campo Alegre, dá a ver um sistema de educação opressivo e fechado, no qual um grupo de meninas rivalizam entre si em busca de serem as melhores. Com uma linguagem clínica precisa, composta por detalhes misteriosos e eróticos, “Virgens Suicidas” inspira-se no texto homónimo de Jeffrey Eugenides, adaptado para cinema em 1999 por Sofia Coppola, e na novela “Mine-Haha” de Frank Wedekind. O primeiro fala de um grupo de rapazes que se deixa hipnotizar por cinco raparigas que se suicidam; o segundo é um documento post-mortem de uma mulher que se mata aos 80 anos e que foi aluna de um sistema educativo à imagem deste que aqui descrevemos. O espectáculo é um atalho entre ambos.
Calçar umas luvas pode ser uma carta de intenções. A forma vagarosa com que se introduzem os dedos, o olhar fatal, a pose de poucos amigos. Quem aqui o faz é uma mulher implacável, sempre vestida de preto, sempre pronta a corrigir costas menos direitas. Rapidamente se percebe – assim que um grupo de meninas vestida de igual, caminhando ao mesmo passo, que se dispõe numa formatura rígida, quase militar – que esta mulher é a criadora deste sistema de ensino secreto, no qual jovens meninas, em isolamento do mundo exterior, são alvo de uma educação opressiva, uma ginástica ditatorial em que se exige um corpo perfeito.
De uniforme igual, as meninas cumprem uma série de exercícios, a mando das professoras, com vista a um espectáculo final que se está a aproximar. Falamos de pinos, de movimentos de braços, de coreografias de grupo que exigem uma sincronização perfeita. Mas esta aparente seita do corpo tem um lado sinistro e que, de forma subtil, vai sendo desvendado. Interpretado por Luísa Cruz, Vera Mantero, Mariana Tengner Barros e jovens ginastas oriundas de diferentes estruturas (Escola Superior de Teatro e Cinema, Escola Superior de Teatro de Cascais, Chapitô, Ginásio Clube Português), o espectáculo reflecte sobre a relação entre o indivíduo e o sistema. Num tempo onde cada vez mais nascem corpos que não existem, no tempo da realidade virtual, é muito interessante este “regresso à materialidade”, para usar as palavras de John Romão. Estas “Virgens Suicidas” estão mesmo lá.
Produção | Colectivo 84
75 Minutos | Maiores de 16 anos
Teatro Municipal do Porto - Campo Alegre Auditório
25 Jan 2020 | sab | 19:00
A nova encenação de John Romão, que acaba de passar em duas sessões pelo auditório do Teatro do Campo Alegre, dá a ver um sistema de educação opressivo e fechado, no qual um grupo de meninas rivalizam entre si em busca de serem as melhores. Com uma linguagem clínica precisa, composta por detalhes misteriosos e eróticos, “Virgens Suicidas” inspira-se no texto homónimo de Jeffrey Eugenides, adaptado para cinema em 1999 por Sofia Coppola, e na novela “Mine-Haha” de Frank Wedekind. O primeiro fala de um grupo de rapazes que se deixa hipnotizar por cinco raparigas que se suicidam; o segundo é um documento post-mortem de uma mulher que se mata aos 80 anos e que foi aluna de um sistema educativo à imagem deste que aqui descrevemos. O espectáculo é um atalho entre ambos.
Calçar umas luvas pode ser uma carta de intenções. A forma vagarosa com que se introduzem os dedos, o olhar fatal, a pose de poucos amigos. Quem aqui o faz é uma mulher implacável, sempre vestida de preto, sempre pronta a corrigir costas menos direitas. Rapidamente se percebe – assim que um grupo de meninas vestida de igual, caminhando ao mesmo passo, que se dispõe numa formatura rígida, quase militar – que esta mulher é a criadora deste sistema de ensino secreto, no qual jovens meninas, em isolamento do mundo exterior, são alvo de uma educação opressiva, uma ginástica ditatorial em que se exige um corpo perfeito.
De uniforme igual, as meninas cumprem uma série de exercícios, a mando das professoras, com vista a um espectáculo final que se está a aproximar. Falamos de pinos, de movimentos de braços, de coreografias de grupo que exigem uma sincronização perfeita. Mas esta aparente seita do corpo tem um lado sinistro e que, de forma subtil, vai sendo desvendado. Interpretado por Luísa Cruz, Vera Mantero, Mariana Tengner Barros e jovens ginastas oriundas de diferentes estruturas (Escola Superior de Teatro e Cinema, Escola Superior de Teatro de Cascais, Chapitô, Ginásio Clube Português), o espectáculo reflecte sobre a relação entre o indivíduo e o sistema. Num tempo onde cada vez mais nascem corpos que não existem, no tempo da realidade virtual, é muito interessante este “regresso à materialidade”, para usar as palavras de John Romão. Estas “Virgens Suicidas” estão mesmo lá.
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