CINEMA: “Mr. Jones – A Verdade
da Mentira”
Realização | Agnieszka HollandArgumento | Andrea Chalupa
Fotografia | Tomasz Naumiuk
Montagem | Michal Czarnecki
Interpretação | James Norton, Vanessa Kirby, Peter Sarsgaard, Joseph Mawle, Kenneth Cranham, Celyn Jones, Krzysztof Pieczynski, Fenella Woolgar, Martin Bishop, John Edmondson
Produção | Andrea Chalupa, Stanislaw Dziedzic, Klaudia Smieja
Polónia, Ucrânia, Grã-Bretanha | 2019 | Biografia, Drama, Thriller | 141 Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
12 Jan 2020 | dom | 18:15
Em 1933, o galês Gareth Jones torna-se no
primeiro jornalista estrangeiro a entrevistar Hitler. Com a sua
popularidade em alta mas desempregado, Jones parte em busca de uma
nova história para contar, decidindo tentar a sorte e chegar à fala
com Estaline, no intuito de questionar o ditador sobre o
propagandeado paraíso dos trabalhadores em que a União Soviética
se está a tornar. Porém, ao chegar a Moscovo, o seu encontro com
outra jornalista, Ada Brooks, leva-o a alterar os planos e a centrar
as atenções sobre os rumores que dão conta do bloqueio de
alimentos feito por Estaline à Ucrânia. Vivendo os factos do
“Holodomor” ou “Holocausto Ucraniano”, cujo trágico saldo se
cifrou em mais de três milhões de vítimas, Gareth Jones tem agora
de enfrentar os grandes “lobbies” da política e do jornalismo
para conseguir passar a sua história e fazer com que ela seja levada em
conta.
Voltando a centrar a atenção no horror perpetrado
pelos movimentos ditatoriais no período entre as primeira e segunda
guerras mundiais – foi assim em “Europa, Europa” (1990) ou em
“Fuga na Escuridão” (2011) –, Agnieszka Holland oferece-nos um
relato que, mais do que caucionar a História, se revela uma
tentativa de contar uma história. Tal como Gareth Jones, também a
realizadora assume o papel de jornalista, rapidamente percebendo (e
dando a perceber) que sempre haverá uma agenda política por detrás
de cada notícia “objectiva”. Com esta ideia em mente, Holland
torna-se particularmente eficaz na apresentação da sua concepção
“maneirista” da realização: Imagens de arquivo, encadeamentos
delirantes, formas abstractas, imagens em espelho, realidades
impossíveis ou a alternância entre o plano aberto e o detalhe –
como se as vivências de Jones precisassem de ser contadas à escala
humana e à escala Histórica - conferem à História / história a
honestidade e a credibilidade que ela exige.
Todos estes
recursos visuais combinam na perfeição com a necessidade de ter em
conta que o “aqui e agora” implicam uma subjectividade ineludível
na representação da própria realidade. Porque há, em “Mr.
Jones”, uma boa dose de “aqui e agora”: A feminista Ada Brooks
transporta consigo uma mensagem particularmente actual, enquanto o
antagónico Walter Duranty (Peter Sarsgaard) não passa de um
fabricante de “fake news” ou, se quisermos, um fantoche
manipulado por russos e americanos ligados ao negócio do armamento.
Torna-se claro que esta aproximação ao conceito de História não é
propriamente original, nem sequer prima pela subtileza. Há
pormenores de uma pobreza confrangedora, nomeadamente a falta de
complexidade da personagem de Sarsgaard, os ingleses do círculo de
Lloyd George reduzidos a um bando de idiotas, a chamada ao filme de
um “tosco” George Orwell ou a inenarrável sequência de
canibalismo. Todavia, não ter apostado directamente numa
representação realista (esse termo tão mal percebido por alguns
realizadores) parece ser já um bom motivo para creditar “Mr. Jones
– A Verdade da Mentira” com nota positiva.
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