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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

CINEMA: "Mr. Jones - A Verdade da Mentira"



CINEMA: “Mr. Jones – A Verdade da Mentira”
Realização | Agnieszka Holland
Argumento | Andrea Chalupa
Fotografia | Tomasz Naumiuk
Montagem | Michal Czarnecki
Interpretação | James Norton, Vanessa Kirby, Peter Sarsgaard, Joseph Mawle, Kenneth Cranham, Celyn Jones, Krzysztof Pieczynski, Fenella Woolgar, Martin Bishop, John Edmondson
Produção | Andrea Chalupa, Stanislaw Dziedzic, Klaudia Smieja
Polónia, Ucrânia, Grã-Bretanha | 2019 | Biografia, Drama, Thriller | 141 Minutos | M/14
Cinema Dolce Espaço
12 Jan 2020 | dom | 18:15


Em 1933, o galês Gareth Jones torna-se no primeiro jornalista estrangeiro a entrevistar Hitler. Com a sua popularidade em alta mas desempregado, Jones parte em busca de uma nova história para contar, decidindo tentar a sorte e chegar à fala com Estaline, no intuito de questionar o ditador sobre o propagandeado paraíso dos trabalhadores em que a União Soviética se está a tornar. Porém, ao chegar a Moscovo, o seu encontro com outra jornalista, Ada Brooks, leva-o a alterar os planos e a centrar as atenções sobre os rumores que dão conta do bloqueio de alimentos feito por Estaline à Ucrânia. Vivendo os factos do “Holodomor” ou “Holocausto Ucraniano”, cujo trágico saldo se cifrou em mais de três milhões de vítimas, Gareth Jones tem agora de enfrentar os grandes “lobbies” da política e do jornalismo para conseguir passar a sua história e fazer com que ela seja levada em conta.

Voltando a centrar a atenção no horror perpetrado pelos movimentos ditatoriais no período entre as primeira e segunda guerras mundiais – foi assim em “Europa, Europa” (1990) ou em “Fuga na Escuridão” (2011) –, Agnieszka Holland oferece-nos um relato que, mais do que caucionar a História, se revela uma tentativa de contar uma história. Tal como Gareth Jones, também a realizadora assume o papel de jornalista, rapidamente percebendo (e dando a perceber) que sempre haverá uma agenda política por detrás de cada notícia “objectiva”. Com esta ideia em mente, Holland torna-se particularmente eficaz na apresentação da sua concepção “maneirista” da realização: Imagens de arquivo, encadeamentos delirantes, formas abstractas, imagens em espelho, realidades impossíveis ou a alternância entre o plano aberto e o detalhe – como se as vivências de Jones precisassem de ser contadas à escala humana e à escala Histórica - conferem à História / história a honestidade e a credibilidade que ela exige.

Todos estes recursos visuais combinam na perfeição com a necessidade de ter em conta que o “aqui e agora” implicam uma subjectividade ineludível na representação da própria realidade. Porque há, em “Mr. Jones”, uma boa dose de “aqui e agora”: A feminista Ada Brooks transporta consigo uma mensagem particularmente actual, enquanto o antagónico Walter Duranty (Peter Sarsgaard) não passa de um fabricante de “fake news” ou, se quisermos, um fantoche manipulado por russos e americanos ligados ao negócio do armamento. Torna-se claro que esta aproximação ao conceito de História não é propriamente original, nem sequer prima pela subtileza. Há pormenores de uma pobreza confrangedora, nomeadamente a falta de complexidade da personagem de Sarsgaard, os ingleses do círculo de Lloyd George reduzidos a um bando de idiotas, a chamada ao filme de um “tosco” George Orwell ou a inenarrável sequência de canibalismo. Todavia, não ter apostado directamente numa representação realista (esse termo tão mal percebido por alguns realizadores) parece ser já um bom motivo para creditar “Mr. Jones – A Verdade da Mentira” com nota positiva.

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