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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Olhares
Sem Tempo”,
de Maria do Carmo Vieira
Galeria AMIarte, Porto
26 Out > 23 Nov 2019
“Há princípios e valores,
Há sonhos e há amores
Que sempre irão abrir caminho.
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sozinho”
in “Do que Um Homem É Capaz”, de José Mário Branco
É com redobrada emoção que visitamos
“Olhares Sem Tempo”, a mais recente exposição da artista
plástica Maria do Carmo Vieira. Desde logo, pelo espaço em que se
insere, o núcleo cultural da Fundação AMI, uma casa de causas que
tem a luta contra a pobreza e a exclusão, o subdesenvolvimento, a
fome e as sequelas da guerra, em qualquer parte do mundo, bem vincada
no seu código genético. E depois porque, mesmo antes de ser a
extraordinária artista que é, Maria do Carmo Vieira é, também
ela, uma mulher de causas. Daí que esta seja uma exposição
marcante a todos os níveis, chamando a atenção do visitante pela qualidade da
obra pictórica aqui apresentada mas sobretudo pela emoção que dela
se derrama.
De Maria do Carmo Vieira conhecemos a
sua natural apetência para o retrato e a forma como, cingindo a sua
paleta a um número restrito de cores, trabalha os rostos e os
olhares de forma sublime. A confirmação da sua sensibilidade e génio traduz-se, nestes “Olhares Sem Tempo”, num conjunto de dezasseis composições, cuja enorme
sensibilidade e beleza faz com que mergulhemos com emoção em cada uma delas, descobrindo por
debaixo das delicadas camadas de tinta, não uma tela, mas uma pele.
A mesma pele que conforma expressões onde se cruzam a dúvida e o medo, a resignação e a tristeza, a raiva e a dor. Essa mesma pele sob a qual há sangue a correr nas veias e corações que pulsam em corpos magoados por vivências traumáticas, a
guerra e a fome sendo nelas um denominador comum.
Fixamos o olhar nestes “rostos de
crianças a quem foram sonegados os Direitos e roubados os sonhos”,
nestes “olhares que nos revelam a tristeza da sua alma”, e
percebemos que são eles que nos olham e não o contrário. São eles
que penetram na nossa carne e nos sufocam num grito calado, o dedo acusador apontado a uma sociedade assente em arbitrariedades
seculares, estruturais e cumulativas, que sustentam os privilégios
de pequenos grupos em detrimento dos direitos fundamentais de todos.
Uma sociedade injusta, onde a segregação e a intolerância, a
discriminação e o racismo, fomentadas pelo populismo, não cessam de
alastrar. Maria do Carmo Vieira tem o mérito de, através da sua
pintura, nos compelir a agir. A lutar por um mundo melhor. Para que guerras como as da Síria, do
Afeganistão, do Iémen, da Somália ou da República do Congo possam cessar imediatamente. Para que não se repitam mais os genocídios que
marcaram o século XX, da Arménia ao Ruanda, da Bósnia ao Cambodja. Para que os sorrisos se voltem a acender nos rostos destas crianças. E para que, livres de preconceitos, todos possamos dar as mãos, partilhando um mundo verdadeiramente livre e justo.
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