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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

CINEMA: "A Herdade"



CINEMA: “A Herdade”
Realização | Tiago Guedes
Argumento | Rui Cardoso Martins, Tiago Guedes, Gilles Taurand
Fotografia | João Lança Morais
Montagem | Roberto Perpignani
Interpretação | Albano Jerónimo, Sandra Faleiro, Miguel Borges, Ana Vilela da Costa, João Vicente, João Pedro Mamede, Rodrigo Tomás, Beatriz Brás, Diogo Dória, Ana Bustorff, Teresa Madruga
Portugal | 2019 | Drama | 166 Minutos | Maiores de 12
Cinema Dolce Espaço
29 Set 2019 | dom | 18:45


“(…) Gosto de muitas coisas que estão no argumento original, a forma como a história do nosso país atravessa esta família e estes personagens, no entanto sentia que precisava de me perder mais dentro deles, precisava que isto não fosse só sobre eventos e queria muito ir para dentro das zonas cinzentas humanas de cada um deles”.

Tiago Guedes em entrevista ao Observador


São deveras curiosas estas palavras de Tiago Guedes, o realizador e co-argumentista de “A Herdade”, porquanto consubstanciam o essencial deste filme. Delas se retira algo que começa por ser o fio condutor da acção e que toma conta da sua metade inicial: o ambiente político, numa fase de declínio do Estado Novo e com o qual João Fernandes, proprietário de um dos grandes latifúndios da margem sul do Tejo, não se quer comprometer. Mas o realizador quis ir mais além e explorar as relações pessoais que, partindo do núcleo familiar, se ramificam e acabam por envolver todos aqueles que à sua volta gravitam. E é precisamente aqui que o filme se perde.

Aceite-se que uma grande franja de espectadores possa simpatizar com o tom novelesco de “A Herdade”, mas é igualmente legítimo que o público se questione sobre a “utilidade” ou cabimento da primeira hora de filme. Para quê o assalariado comunista, o guarda conivente, o pide ascoroso, o general prepotente, o patrão que com uma mão lava a outra ou a “Grândola, Vila Morena” a anunciar novas auroras, se tudo isso acaba por se revelar inútil para o desenrolar da acção, acabando por ser sumariamente descartado? Por muito que nos custe, torna-se incompreensível esta opção de Tiago Guedes de partir o filme em dois e deitar fora uma das partes, por sinal a mais “colorida”.

Penetrando na “zona cinzenta”, o filme assume agora um registo de telenovela, de clichés e banalidades feito. Tudo é denunciado, previsível, da mulher enganada ao filho drogado, dos segredos que não o são ao cavalo a quem é preciso dar o tiro de misericórdia. Salvam-se a fotografia de João Lança Morais e alguns apontamentos de uma Sandra Faleiro mais contida e particularmente convincente. Tudo o resto é blá-blá-blá!

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