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sábado, 4 de maio de 2019

ESPAÇOS: Museo Della Folia


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ESPAÇOS: Museo Della Folia
Cavallerizza, Piazzale Verdi, Lucca
27 Fev > 18 Ago 2019


É no renovado espaço da Cavallerizza, no belo interior muralhado da cidade de Lucca, que vamos encontrar o Museo Della Folia. Penetrando no espaço expositivo, o visitante vê-se imediatamente invadido por um conjunto de sons rumorejantes que, ecoando num ambiente obscurecido e sombrio, concorrem para mimetizar uma instituição de alienados. Neste cenário labiríntico e despojado, está traçado um percurso sensorial composto por cerca de 200 obras, entre pintura, fotografia, escultura, objectos vários e instalações multimédia, que convidam à reflexão sobre o tema da loucura. Com uma filosofia próxima daquela que preside à apresentação das colecções de Arte Bruta, o Museo Della Folia ganha vantagem em relação àquelas na medida em que aposta na contextualização “in loco” do processo de criação artística em condições tão particulares, mediante a “oferta” de um ambiente desumanizado e repressivo.

A mostra articula-se em várias secções, abrindo com as pinturas e esculturas de alguns nomes maiores da arte internacional, casos de Silvestro Lega, Fausto Pirandello, Antonio Ligabue ou Francis Bacon, nelas se reflectindo um conjunto de obras alucinadas e visonárias, frutos duma marcada perturbação mental. Prossegue depois com “Stereoscopi”, onde somos convidados a “visitar” o Hospital Psiquiátrico de Mombello, local de internamento de Gino Sandri, Tarcisio Merati, Fiore ou Venturino Venturi, entre outros, e cujas obras podem ser igualmente apreciadas ao longo desta mostra. Outra instituição psiquiátrica que pode ser “visitada” é o manicómio de Teramo, hoje desactivado, e que nos é trazido pelas soberbas fotografias de Fabrizio Sclocchini numa série designada “Gli assenti”. Sede de testemunhos preciosos, as secções “Lettere mais spedite” e “Stanza dei Ricordi” falam-nos de humilhação e dor, da impotência e incredulidade daqueles que foram incriminados e encarcerados sem outra culpa que não a de serem diferentes.

O quarto de Mario Tobino, dá-nos a conhecer o psiquiatra que escolheu viver quase quatro décadas da sua vida entre os 1040 “amigos” do Manicómio de Maggiano, partilhando com eles o ar, a vida e o sonho. De Cesare Inzerillo pode apreciar-se a escultura de grandes dimensões “Apribocca”, réplica de modelo original também presente nesta mostra e que era usado para administração forçada de medicação aos mais renitentes. Também deste autor, “Griglia” é uma instalação onde se recuperam as fotografias das fichas clínicas de alguns doentes mentais. Entre os muitos autores presentes na mostra, destaque ainda para Enrico Robusti e para o seu colossal fresco a óleo, representando um barco apanhado pela tempestade, a bordo do qual o visitante encontrará um conjunto de personagens grotescas e dominados pela loucura. Uma mostra imperdível numa visita a Lucca, um pretexto para reflectir sobre conceitos tão controversos como os da normalidade e da loucura.

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